Elvis | 2022

Elvis | 2022

Elvis não morreu! O rei do rock, o artista solo que mais vendeu discos em toda a história da música mundial, para muitos ainda está vivo! Se seu corpo de fato não está, suas canções seguem influenciando e embalando gerações através dos anos. No drama biográfico Elvis, dirigido por Baz Luhrmann – que fez filmes como O Grande Gatsby (2013), Moulin Rouge! (2001) e Romeo + Juliet (1996) –  acompanhamos a trajetória e ascensão do rockstar desde suas raízes fincadas na música negra até a enlouquecedora rotina que a fama trouxe ao gigante Elvis Presley. 

No longa, temos a história narrada por Tom Parker, com ótima interpretação de Tom Hanks, sob o prisma da relação muitas vezes conflituosa e abusiva que se estendeu por mais de 20 anos entre empresário e artista. Elvis Presley,  interpretado pelo talentoso ator Austin Butler, inicia sua carreira fazendo pequenos shows como atração secundária até começar a ser notado. Notado não só por sua música, que remete fortemente a artistas negros da época, surpreendendo e chamando imediatamente a atenção de Parker ao descobrir que o dono da voz tão tocada nas radios era, na verdade, de um homem branco. Para além da música, Presley surpreende com a energia de suas performances e ousadia em seus movimentos ao vivo! 

Baz Luhrmann faz um retrato visceral das apresentações de Elvis, mostrando com detalhes o esforço e dedicação do artista no palco. As cenas dos ensaios e dos shows são intensas, com grande closes-ups, onde podemos ver bem de perto cada gota de suor que escorre pela pele do artista, cada respiração ofegante resultado da exaustiva preparação entre ensaios e shows, sob figurinos imponentes e muitas vezes claustrofóbicos! Em entrevista, Butler revelou muitas dificuldades para gravação das cenas no palco, principalmente as com o macacão na icônica apresentação de “Unchained Melody” com Elvis já acima do peso e com problemas de saúde, por sua dependência em drogas.

“Unchained Melody’ foi um desafio físico porque foi feito com o macacão e o macacão (uma segunda pele) por baixo, e aperta suas costelas a ponto de você não conseguir respirar”, disse Austin, conforme repercutido pelo LA Times. “Eu me senti muito claustrofóbico lá e muito apertado, não conseguia respirar e estava muito, muito quente”.

É interessante a abordagem em torno do fato de que o “embranquecimento” do rock claramente colocou Elvis em mais evidencia ao fazer algo que outros artistas negros já faziam tão bem, porém sem reconhecimento. Mostra a consciência de Presley em relação a isso e sua proximidade com a comunidade de artistas negros da música gospel. Sua amizade com BB King, interpretado por Kelvin Harrison Jr e Sister Rosetta Tharpe, interpretada pela cantora Yola.

O diretor optou por usar diversas cenas com tela dividida, o que remete aos quadrinhos de super-heróis que Elvis era fã –  fato algumas vezes citado no filme –  e retratar o furor das moças fanáticas pelo rei do rock de forma caricata e exagerada, com mais takes em close-up da beira do palco. A trilha sonora é um pouco controversa, pois parece às vezes deslocada do filme, mesmo com a imensa gama de músicas de Elvis Presley, ele optou pelo uso de canções contemporâneas, de artistas como Eminem e Doja Cat

Se ele surfa na onda das cinebiografias  musicais recentes que agradam alguns Festivais e a Academia, como Bohemian Rhapsody (2018) de Bryan Singer e Rocketman (2019) de Dexter Fletcher, o faz sem muita originalidade. Com um roteiro um pouco cansativo e amarradinho até demais, quando referencia certos artifícios na narrativa e deixa óbvio o instante em que irá usá-los na tela e faz de Parker um vilão extremamente caricato. O longa se estende por mais de duas horas. Contar a carreira de Elvis do início ao fim não é uma tarefa fácil para um longa, mas existem momentos de diálogos pouco interessantes entre Parker e Presley que poderiam ser enxugados. Baz Luhrmann revelou em entrevista à Radio Times que a versão original de Elvis tem 4 horas de duração, precisou reduzir as filmagens para um corte com 2 horas e 30 minutos, deixando ainda muitas cenas de fora.

As atuações são certamente o ponto alto em Elvis, Austin Butler conseguiu sustentar a fama de “Elvis the Pelvis” em um alto nível, se entregando nas performances e Hanks atua com extrema confiança como antagonista, algo pouco comum em sua carreira. Um ótimo trabalho de maquiagem, figurino e fotografia cuidadosos fazem valer a ida ao cinema e assistir tudo na tela grande e em alto e bom som.

Nota

Author

  • Mari Dertoni

    Jornalista carioca, estudou cinema na Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, certificada em roteiro pelo Instituto de Cinema de São Paulo. Ama cinema de horror e os grandes clássicos.

    View all posts

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *