Encontros | 2021
O diretor sul coreano Hong Sang-Soo é um dos mais prolíficos de seu tempo. A quantidade de filmes que dirige no período de um ano, assusta. Em 2017, por exemplo, foram três longas-metragens. Em 2021, foram dois, sendo “Encontros” um deles.
O sul coreano possui um estilo muito próprio de filmar e pode-se dizer que os elementos mais característicos de sua obra se fazem presentes em “Encontros”, filme que ele, além de dirigir, roteiriza e assina a fotografia.
Os temas quotidianos são, quase sempre, os principais motes de suas obras. Situações ordinárias, conversas banais, viagens, bebedeiras. Há um nítido interesse por esta vida que, não sendo extraordinária, se aproxima da vivência da maioria dos espectadores. Como em outros de seus filmes, Sang-Soo opta por dotar seu filme de um intimismo muito peculiar, assim como faz os diálogos prevalecerem em relação à ação, conferindo um ritmo mais lento à obra, fazendo com que o espectador acostumado com um cinema “mais hollywoodiano” possa achar seus filmes demasiadamente enfadonhos.
Utilizando uma fotografia em preto e branco, “Encontros” traz três diferentes histórias que se entrecruzam em uma narrativa não-linear, cujas demarcações são colocadas na tela da forma mais direta (e simples) possível: a aparição de números indicativos, o que sugere, desde logo, a espécie de ode à simplicidade trazida no filme.
Na primeira das narrativas, Young-ho (interpretado por Shin Seok-Ho) pede para que sua namorada, Ju-won ( interpretada por Park Mi-So), o espere enquanto irá visitar um médico (que, posteriormente, descobrimos ser seu pai). Enquanto está na sala de espera do consultório, é avisado que o médico está atendendo um ator muito famoso e que apareceu sem dar aviso, o que justificava a demora excessiva; Na segunda seção do filme, Ju-Won vai estudar moda em Berlim e, na capital alemã, divide apartamento com uma artista plástica (interpretada pela magistral Kim Min-hee) recém divorciada e amiga de sua mãe. Nos momentos iniciais de sua adaptação ao país, Ju-Won é surpreendida com a chegada de Young-Ho, seu namorado. Em meio à surpresa, uma questão a aflige: o jovem tem como arcar as despesas da viagem dessas?
Por fim, no terceiro (e último) segmento, Young-Ho é convidado para um encontro com sua mãe e um famoso ator. Sim, o mesmo do primeiro segmento da trama. Aquele encontro serviria para que ele expusesse o motivo pelo qual queria abandonar as artes cênicas: a dificuldade (de cunho moral) de realizar uma cena de beijo, mesmo tendo uma namorada.
Tudo isso não ocorre sem que muitos cigarros sejam fumados e sem que muito soju seja bebido pelos personagens (atos pra lá de identificados com o cinema de Sang-Soo), mas também se perfaz a partir de uma utilização muito crua de certos recursos, dentre os quais destaco a utilização do zoom em algumas cenas, possível de ser realizada até mesmo com defasadas câmeras de aparelhos celulares.
Nos sessenta e seis minutos de duração deste filme que parece não ser dos mais pretensiosos da carreira do diretor sul coreano, a temática que mais vem à lume é a do conflito geracional, presente em diálogos (muito bem construídos) que versam, por exemplo, sobre a impulsividade dos mais jovens, suas dificuldades financeiras, o embate de posturas mais formais e informais e, principalmente, sobre uma falta de ambição/convicção dos mais jovens em relação à carreira profissional, tema central da mais marcante cena do longa: a áspera fala do “velho ator”, já embriagado de soju, disparada contra a (aparente) displicência de Young-Ho.
“Encontros” ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim em 2021 e estreia nos cinemas brasileiros no primeiro dia de setembro, sendo distribuído pela Pandora Filmes.
