ENTREVISTA: Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro

ENTREVISTA: Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro

“Nós acreditamos sim que a animação está crescendo, gostaríamos, claro, que tivessem ainda mais investimentos, mas a gente entende que isso faz parte de um processo de entendimento. A partir do momento em que outros filmes venham, séries, como estão sendo produzidas, que o público realmente se interesse, então eu acho que isso é uma caminha, é uma jornada.”

O Coletivo Crítico teve o prazer de entrevistar a equipe do filme de animação Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro. O longa mineiro acaba de estrear nos cinema brasileiros e o Daniel Oliveira conduziu a entrevista que fala sobre o mercado de animação no Brasil, processos de produção e de dublagem.

Segue abaixo:

PARTE 1:

Guilherme Fiúza Zenha (Diretor)
Danton Mello (Ator/Dublador)

DANIEL: Primeiramente queria parabenizar pelo trabalho, gostei muito da animação, sou fã do trabalho de vocês, já assisti aos seus filmes. Danton, eu conheço bastante seu trabalho. Eu queria começar perguntando para o Guilherme, você tem experiências já com longas com atores, pelo que vi é sua primeira animação. Eu queria saber como foi sua experiência dirigindo uma animação?

GUILHERME: Eu também sou produtor e eu trabalho muito em mercado infantil, público infantil, infantojuvenil e eu já tinha produzido algumas animações, então não é um universo tão distante, mas uma coisa é ser produtor e outra coisa é dirigir. O desafio foi justamente esse, juntar a minha metodologia de dirigir, que ela é muito cartesiana, ou seja, eu antes de fazer um filme eu decupo ele inteiro, de preferência com planta baixa, movimento de câmera e posição de atores e isso foi um facilitador dentro do processo aqui, porque me ajudou a orientar o storyboardista para que a gente fosse mais objetivo. Porque funciona muito assim né, o storyboard ele desenha e te manda, aí você aprova. Então foram basicamente ajustes de câmera que a gente fez e isso ajudou muito. Eu acho que a experiência que eu trago do live action pro processo nosso de voz, que é de voz original, foi muito legal, porque acho que eu acho que eu dialogo e consigo conversar muito bem com os atores. E ali tinha uma coisa que é difícil para a gente enquanto diretor, que é quando você vai para um set, você tem corpo, alma, voz, intenção, maquiagem, figurino, cenário, tudo pronto. Mas ali a gente pode se concentrar, é só a voz, o acting tá muito na voz. E como a gente faz a voz original, antes de fazer o processo de animação, isso é libertador, porque você pode ter “caco”, você pode ter uma monte de coisa… e a gente fez uma brincadeira com o Danton e com o Rodrigo Waschburger  que faz o Léo, a gente trouxe o Waschburger pra cá e o Danton pra cá e botou os dois dentro do estúdio. Então todas as cenas dos dois, os dois fizeram juntos. Então tem um pouco de teatro e um pouco de set ali também.

A gente levou três dias para gravar todas as vozes aqui, eu brinquei com Danton assim, ele que tem o histórico de live action e eu também: “fizemos a log em três dias, pronto, hahaha, estamos de parabéns!!”. Mas esse é um pouco do processo, a questão toda é a demora, o processo é muito artesanal e muito manual, apesar de ter essa questão do auxílio da ferramenta do computador e poder ter o resultado mais pronto né, bem mais perto do final. Essa é a parte mais difícil, que é passar esse tempo todo vendo muito rascunho. 

DANIEL: Eu queria perguntar para o Danton. Você tem uma larga experiência com dublagem, eu pesquisando aqui eu vi que você dublou até Carrossel, fez parte da minha infância, enfim, você já tem bastante experiência dublando com um material que já vem pronto e que você tem que se basear. Como que foi você criar a voz do personagem sem referência, como foi essa criação original para você? Como foi esse trabalho?

DANTON: Nossa Daniel, foi incrível!! Foi muito muito prazeroso e divertido, né? Como você falou assim…  eu comecei a dublar criança, em 1985 eu dublei filmes icônicos como Os Goonies e dublei muito desenho! E é isso, a gente quando dubla, o filme já vem pronto, como você falou, ou seja, já tem a voz original, a boca do personagem, a obrigação de você encaixar seu texto certinho na boca do personagem, e no nosso caso aqui com o Jack, foi a primeira vez que eu fiz uma criação original. Quando o Gui me fez o convite, quanto ele me ligou, me apresentou o projeto, me apresentou um material da produtora, pra eu conhecer o desenho, pra eu conhecer o Jack, rascunhos, cores… eu fiquei muito encantado! Falei “gente, tem muita qualidade!”, nesse filme que eles estão fazendo e estão me convidando. Foi uma honra ter sido chamado. E aí entrar num estúdio, com o personagem estudado e tendo o Gui me conduzindo, foi muito gostoso e muito fácil, por que eu propus coisas, eu trouxe do que eu tinha estudado, do que eu tinha entendido desse personagem, junto com a parceria com o Gui, que já estava muito antes no projeto, estava ali desde a criação. Então ele foi me conduzindo, apontando, a gente modulando e essa experiência de dublar junto é uma coisa que eu não fazia há décadas! 

Quando eu comecei a gente dublava todo mundo junto no estúdio. Uma cena que tinham dez pessoas, tinham dez dubladores! Depois com a tecnologia isso foi acabando, né, hoje normalmente você entra e dubla sozinho. A sua parte, sua voz fica ali num canal, depois fazem outro,  depois fazem outro e vão montando né. Eu fiz o Jack sozinho, mas em muitos momentos eu tive do meu lado o Rodrigo, que faz o Leonard. Então assim, a gente teve essa troca, algo que é muito gostoso, você se ouvir, você ouvir o colega. Então dependendo da intenção que ele dá, você vai por outro caminho e o Gui dirigindo a gente, então foi muito gostoso e muito prazeroso e  eu fico muito orgulhoso com o resultado, com o filme pronto, o filme está muito bonito, É muito difícil fazer cinema no Brasil, uma animação é mais difícil ainda! O trabalho que eles conseguiram realizar é de muita muita qualidade. Muito orgulho de fazer parte desse time, dessa família do Chef Jack e agora torcer para que o público compareça, que os pais levem seus filhos, que eles possam ir ao cinema conhecer a história do Jack! É um filme com muita aventura, com muita ação, um filme divertido. As experiências que a gente teve nas pré estreias, ver as crianças, eu fiquei muito atento a isso, em ver a reação. A criança é muito sincera, se ela não gosta ela não gosta, ela levanta e vai embora! E as crianças torcendo e rindo e se divertindo, é muito prazeroso e muito emocionante.

PARTE 2:

Arthur Costa (Co-Diretor/Roteirista)
Luiz Fernando Alencar (Produtor)
Giordano Becheleni (Produtor)

DANIEL: Eu queria começar perguntando para o Arthur. Eu consegui ver ali algumas inspirações nos cenários e até no design dos personagens, eu consegui ver ali Indiana Jones, Agrabah do Aladdin, eu queria perguntar pra você quais foram suas inspirações pro design dos personagens e dos cenários também?

ARTHUR: Ah legal, é uma excelente pergunta! Foi uma mistura de muita coisa né, a nossa equipe, a gente tinha uma equipe absolutamente fantástica. Por mais que fossem pessoas que ainda não tinham trabalhado com longa metragem, todo mundo abraçou o projeto, todo mundo gostou muito do que a gente tava propondo e todo mundo trouxe muito de suas próprias referências para a história, sabe? Então a gente tinha conversas muito longas com a Sarah Guedes, que foi a diretora de arte, com o Rafael que trabalhou com a gente como designer de personagens, a Rafaela, que também trabalhou como designer de personagens, então assim, eu como criador trazia as referências pra Sarah, ela trazia as referências dela, a gente conversava e era um caldeirão de muitas ideias. A Sarah, ela preparava o PDF que continha essas referências desses personagens e entregava isso pro designer de personagem, e aí eles criavam em torno disso. 

Em termos assim de filme, Indiana Jones é engraçado porque eu não vi muito, eu não consumi todos os filmes, mas ele está no meu imaginário pelo impacto que ele causou nos filmes subsequentes. Mas pra mim o filme que mais me inspirou, porque eu acho que quando criança eu assisti repetidas vezes é A Nova Onda do Imperador. Tem muito paralelismo, a própria dinâmica de duplas, o contraste entre as próprias duplas, eles são diferentes, mas eles me marcaram de um jeito que foi até subconsciente. Quando eu apresentei os personagens aí “Nossa Arthur, me lembra muito A Nova Onda! Meu Deus eu amo esse filme!!”, como eu não falei dele antes? 

DANIEL: Faz sentido e é até legal porque o dublador é o Selton Mello, que é irmão do Danton né? haha 

ARTHUR: Nossa, não foi proposital haha. Mas é isso, se a gente for falar do Jack especificamente, ele tem muito do Johnny Bravo nele sabe, aquela personalidade de se achar muito bonito, se achar a pessoa mais maravilhosa do universo. De ser muito egocentrista né? Ele se prioriza acima de tudo e o arco dele é sobre isso, de deixar de ser mais assim, de se abrir mais para uma amizade, para as outras pessoas. Mas é isso, Johnny Bravo, Indiana Jones, Han Solo!! Tá tudo ali! 

DANIEL: Uma outra coisa e até continuando nessa pergunta dos personagens. Eu consegui ver ali bastante representatividade nos personagens. Tem muita brasilidade ali. Eu queria que você falasse um pouco mais sobre esse cuidado.

LUIZ: Essa foi uma característica que a gente quis fazer desde o início né: É um filme brasileiro e com artistas 100% brasileiros, então naturalmente já ia trazer, a veia artística, os traços do nosso povo, mas a gente ainda quis reforçar. Essa representatividade plural que nós temos, veio muito naturalmente. Porque o Brasil é muito diverso, nós temos vários tipos de povos e vários tipos de cultura, então o próprio ato de representar o Brasil, já traz essa diversidade. Nós ficamos muito felizes que finalmente a gente conseguiu retratar um pouco dessa cultura e dessa diversidade e trazer um pouquinho do tempero né, em cada fase do filme. 

DANIEL: O Chefe Jack é uma animação inteiramente mineira, né? e o cinema mineiro está num momento muito bom, a gente acabou de ver aí o Marte Um, que infelizmente saiu do Oscar, mas é incrível e aí eu queria saber qual a expectativa para o cenário de animação, aí no cenário mineiro?

GIORDANO: Até bacana você ter falado isso, a Rejane Faria que é uma atriz de Marte Um, ela participa do nosso filme, ela faz a Adaeze. Nós estamos vivendo uma crescente na animação como um todo em nosso país, tanto é que nós estamos exportando talentos pro Canadá, pra Irlanda. A própria produtora aqui já exportou pra Disney, pra outros países, então é uma felicidade muito grande, saber que o brasileiro ele tem esse lado criativo muito forte, ele é bom de se conviver, ele se integra aos trabalhos e se entrega aos trabalhos, ama o que faz, tá ali pra fazer sempre o melhor e a gente sabe que a animação ela acaba sendo imortalizada. Você tá ali fazendo parte daquele projeto e nada mais agradável do que você fazer algo que seja extremamente aprazível a você e que também seja bacana ao público, a família, que tenha uma resposta positiva. Nós acreditamos sim que a animação está crescendo, gostaríamos, claro, que tivessem ainda mais investimentos, mas a gente entende que isso faz parte de um processo de entendimento. A partir do momento em que outros filmes venham, séries, como estão sendo produzidas, que o público realmente se interesse, então eu acho que isso é uma caminha, é uma jornada. Agora a gente tem que se propor a fazer e que bom que vocês estão gostando e nos amparando aí, com essa divulgação que é tão importante. 

LUIZ: É o primeiro filme de animação de Minas Gerais, né? Ele dá esse start, então a gente tá torcendo para que ele traga boas energias aí para os próximos! Que venham muitos! 

* transcrição da entrevista por Mari Dertoni

Leia a crítica sobre Marte Um AQUI.

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