O Último Ônibus | 2023
A boa intenção nem sempre é suficiente para sustentar um longa, principalmente quando a falta de criatividade e a previsibilidade dos acontecimentos findam por impedir qualquer possibilidade de imersão. A carência de algo que o sustente salta ainda mais aos olhos quando é notório objetivo de emocionar o espectador, mas não se mostra capaz de causar muitas sensações, a exceção do cansaço. O Último Ônibus, filme britânico dirigido por Gillies MacKinnon e protagonizado por Timothy Spall, tem plena ciência de sua mediocridade, tentando apostar em uma fórmula emocional extremamente forçada para cativar alguns aqui e ali.
O Último Ônibus nos conta a história de Tom (Spall, diga-se, possui 66 anos), um idoso mal-humorado, porém extremamente benevolente de 90 anos, que mora num vilarejo da Escócia, que após tornar-se viúvo decide atravessar seu país rumo ao local onde nasceu e conheceu sua esposa, ao norte da Inglaterra. Sua viagem, então, se torna uma aventura sob os olhos de todos aqueles que cruzam seu caminho, pessoas otimistas e boas que fazem a jornada viralizar na internet, através da #heróidoônibus.
Com uma narrativa provavelmente tirada dos minutos iniciais de Up: Altas Aventuras, visto as inúmeras semelhanças, cada passo de Tom, seja no futuro ou no passado, é extremamente previsível. O diretor intercala a jornada do idoso com flashbacks que nos fazem conhecer sua história triste de vida, num caminho bastante protocolar entre felicidade + tragédia + superação. A forma com que os personagens tornam-se obcecados pela viagem de Tom e desejam ajudá-lo faz parecer que elas mesmas estão ao nosso lado assistindo ao filme.
A trilha sonora é tão pobre quanto o filme. Assim como cada uma das situações forjadas para que Tom fraqueje e se supere (um carro quebrado, uma maleta roubada, uma doença, uma cantoria no metrô, uma soneca no ônibus que o deixa perdido e por aí vai), somos quase que forçados a nos emocionar pelo tom da trilha.
De qualquer forma, é sempre delicioso assistir à Timothy Spall e seus maneirismos. Muito competente mesmo diante das saias mais justas, o trabalho do ator é o que há de mais convivente em O Último Ônibus. A mensagem positiva sobre como a sociedade enxerga a velhice acaba por não funcionar, pois torna cada passo do idoso algo digno de viralizar, correndo o risco de inverter seu ideal bem-intencionado para transformar tudo em uma visão deveras exploratória. Talvez funcionasse melhor como um vídeo curtinho de TikTok, o que no fim se tornou a vida de Tom.
O Último Ônibus, assistido por Natalia Bocanera via cabine de imprensa, estreia nos cinemas brasileiros em 01 de junho.