Curtas Mostra Luas Parte 1 | 6ª Mostra Lugar de Mulher é no Cinema
A Beira do Rio Almas
Dir: Taize Inácia
O significativo filme de Taize Inácia carrega a potência da ancestralidade na figura de sua protagonista, Joana, uma lavadeira que, durante seu ofício na beira do rio, se conecta com as vozes do vento e das águas que sussurram histórias não contadas, e que emergem do silêncio através da dança da personagem.
Os movimentos corporais de Joana ditam o ritmo do curta, e simbolizam não só a conexão de gerações, como também o empoderamento das mulheres negras, ressaltando a beleza e a força de seus tons de pele múltiplos, de seus cabelos crespos, de suas histórias. A Beira do Rio Alma transforma quinze minutos em uma energia ancestral que nos coloca no mesmo compasso dos movimentos de Joana!
Essa Terra é Meu Quilombo
Dir: Rayane Penha
A conexão com a terra de gerações de mulheres negras e o equilíbrio dessa relação. Essa Terra é Meu Quilombo, filme amapaense, se interessa pelas histórias das moradoras de três quilombos urbanos, que expõem a luta pela valorização de seus territórios como conquistas pelo trabalho geracional na agricultura e na preservação de suas culturas.
A terra aqui também é personagem do curta de Rayane Penha. Elemento que gera vida através do alimento e da cura, a terra é alvo de cuidado dessas mulheres tal como um membro de suas famílias, um filho que precisa ser alimentado e renovado. A vida é a terra, mesmo no ambiente urbano. Esse equilibrado vínculo se contrapõe ao abandono das comunidades quilombolas pelo Poder Público. Enquanto as mulheres cuidam da saúde da terra, suas próprias saúdes são negligenciadas pela ausência de atendimento médico próximo. Um filme emocional de uma realidade brasileira pouco explorada pelo cinema.
Medusa In.Conserto
Dir: Bruna Lessa
O mito de Medusa por ela mesma. Essa questionadora produção de Bruna Lessa mistura a doc-ficção musical, com um humor ácido, necessariamente subversivo e direto na mesma medida, para entrevistar as diversas faces da mesma Medusa. A tragédia de Medusa foi causada por Poseidon, deus dos oceanos, que passou a desejar a sacerdotisa, a estuprando, o que motivou a punição de Atena, que transformou o cabelo de Medusa em serpentes e lhe rogou a maldição de tornar pessoas em pedra.
Medusa é vítima, e a culpa nunca é da vítima. O curta denuncia fortemente a cultura de estupro e a violência contra os corpos femininos. As diversas Medusas do filme carregam cada qual uma dor diferente e um carisma diferente, encontrando espaço ainda para falar sobre o pós estupro, que ceifa a história e a vida da mulher em duas partes muito distintas. Um trabalho que exala criatividade em sua composição.
Não-Corpo
Dir: Maria Andris
Não-corpo, curta necessário de Maria Andris, é um retrato que reflete a desumanização dos corpos das pessoas trans. De forma sensível, o filme acompanha com minúcia e respeito a rotina de sua protagonista, que acorda, toma banho e se cuida como qualquer outro corpo. Ao mesmo tempo, traduz nessa mensagem corporal a solidão a que são submetidas as pessoas trans. Simples e tocante.
Todavia Sinto
Dir: Evelyn Santos
O estudo de corpos mostra-se necessariamente recorrente nesta sexta edição do festival. Em Todavia Sinto, curta de Evelyn Santos que foi exibido e premiado no É Tudo Verdade 2023, expõem-se os dilemas íntimos de uma jovem mulher grávida, assim como as pressões e julgamentos externos que recaem sobre ela.
Enquanto é atingida por tais julgamentos, a diretora nos traz seu próprio corpo submerso, descobrindo-se e transformando-se sob as águas. Também encontra acolhimento nesse espaço. Um belo e poético autorretrato, que sente intensamente, em que pese o mundo lá fora.