O Convento | 2023

O Convento | 2023

Os fãs de terror, um público muito cativo e sedento por novos lançamentos do gênero no cinema, já se acostumaram a relevar certos clichês cinematográficos em prol de bons momentos de tensão e medo. Se olharmos por essa ótica, o novo filme do diretor inglês Christopher Smith pode agradar. Smith que possui bagagem do gênero em sua filmografia, fez alguns bons filmes como “Plataforma do Medo” (2004), “Triângulo do Medo” (2009) e “Morte Negra” (2010). Em O Convento ele parece optar por uma tendência mais recente dos filmes de horror, que se baseiam em tramas com temas que envolvem religião, mesclando a discussão da fé, ou a falta dela, com artifícios sombrios, como possessão demoníaca e exorcismo.

Há uma gama enorme de filmes recentes e que entraram em cartaz nos cinemas, que exploram esses assuntos, como por exemplo: “O Exorcista do Papa” (2023), “A Luz do Demônio” (2022), “Oferenda ao Demônio” (2023), “A Primeira Comunhão” (2022), “O Nascimento do Mal” (2022), “13 Exorcismos” (2022), “Exorcismo Sagrado” (2021). É curioso perceber como esse tipo de filme vem ganhando espaço nas salas do circuito comercial dos shoppings, filmes que nos anos 90 muito provavelmente iriam direto para a televisão, e hoje, seguindo essa  lógica, direto para o streaming. Os tempos mudaram e o espectador de terror, pelo visto, também mudou e se diverte assistindo, abrindo espaço para que filmes como esses continuem a ser lançados em tela grande no Brasil.

O Convento conta a história do ponto de vista de sua protagonista, Grace, interpretada por Jena Malone, uma mulher cética que faz parte do mundo da ciência e que recebe a triste notícia da morte por suicídio de seu irmão, Michael (Steffan Cennydd). Essa informação trouxe à tona uma desconfiança inquietante em Grace, que não conseguiu aceitar que seu irmão, um padre devoto, tenha findado com a própria vida. Então ela começa uma saga solitária a procura de mais detalhes acerca do suposto suicídio, indo até a Escócia onde fica a igreja que Michael residia. A figura de Grace acaba se desenrolando em um estereótipo da mulher que se contradiz e não aceita o que lhe é mostrado, para que no fim se prove que está errada. Uma estereotipização que considero pejorativa ao protagonismo femino em muitos filmes de terror, onde a mulher parece delirante ou sempre enxerga sozinha algo que ninguém mais consegue, e é tratada como uma pessoa em desequilíbrio ou que não deve ser levada a sério. 

Christopher Smith consegue ótimos takes, principalmente quando o filme passa a ser ambientado em terras escocesas e dentro do cenário da igreja católica. Ele sabe usar a fotografia a seu favor, enquadramentos sempre bem pensados, brincando com as imagens sacras em filmagens internas e externas, diversas estátuas de gesso presentes no quintal da igreja, junto a enorme quantidade de freiras vestidas de branco, tornam interessante a composição da mise-en-scene. Isso infelizmente não sustenta o longa que com frequência faz uso de artifícios banais como vultos, sombras, luzes piscantes, até uma imagem fantasmagórica em CGI para ajudar no clima soturno, mas que por fim torna os atos previsíveis e de gosto duvidoso. Outro ponto que incomoda é sua necessidade de auto explicação narrativa, como se o espectador não fosse capaz de unir os fatos e chegar às próprias conclusões. Muitas respostas são dadas de sopetão ou através de repetições desnecessárias e flashbacks.

Grace, ao chegar ao convento, é recebida por duas figuras importantes interpretadas por atores mais experientes: O Padre Romero (Danny Huston) e a Madre Superiora (Janet Suzman). A primeira impressão de Romero é uma figura cativante e receptiva, que parece compreender as angústias de Grace, a fazendo se sentir à vontade no novo local onde passará uns dias, respeitando até seu ceticismo. A Madre é uma figura rígida e misteriosa, nada amistosa, a qual Grace tem severas desconfianças a respeito da nebulosa história contada sobre a morte de seu irmão. 

Enquanto Grace está no convento, ela redescobre segredos do seu passado e de sua infância com Michael, que a atordoam e a fazem experienciar um novo encontro consigo mesma e com horrores vividos sob cuidados de um pai violento. As explicações sobre a história da protagonista e seu irmão se dão da maneira mais simplista possível, por meio dos flashbacks expositivos, onde descobrimos que havia um pai abusador, uma mãe morta e uma escrita secreta que apenas Grace e Michael sabiam ler, revelando junto com isso, interesses escusos da igreja em algo que só Michael, e agora Grace, poderiam ajudar. 

Parece que há muita informação, mas no fim tudo tem uma explicação razoável, se utilizando de um excesso auto explicativo de uma forma mal resolvida pela direção e roteiro. Smith cria um cenário de terror legítimo, com uma história que traz suspense, um plot twist, teorias de conspiração, possessão e boas imagens, mas não sabe unir isso e trazer resoluções fluidas para as questões que apresenta.

Assistido via cabine de imprensa. O filme estreia dia 27/07 nos cinemas brasileiros, distribuído pela Imagem Filmes

Nota

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  • Jornalista carioca, estudou cinema na Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, certificada em roteiro pelo Instituto de Cinema de São Paulo. Ama cinema de horror e os grandes clássicos.

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