Coletiva de Imprensa | True Detective: Terra Noturna

Coletiva de Imprensa | True Detective: Terra Noturna

True Detective é uma série que já nasceu na excelência, no pedestal. A primeira temporada, de 2014, entregou um trabalho de nível tão elevado que alcança o difícil status de ser insuperável dentro de si mesma. A criação de Nic Pizzolatto que deu protagonismo à dupla composta por Matthew McConaughey e Woody Harrelson iniciou uma narrativa investigativa policial que percorre o drama e o suspense de forma extremamente equilibrada, não se limitando aos crimes em si, mas se interessando muito pela complexidade e profundidade de seus personagens, sempre interpretados por talentos incontestáveis, de muito reconhecimento e grandiosidade.

Com esse início triunfal e uma segunda temporada que veio já em 2015, foi difícil manter a competência. Ainda que trabalhando com nomes como Colin Farrell, Rachel McAdams e Vince Vaughn, a pressa evidentemente prejudicou a série e optou, depois, pelo respiro. A terceira temporada foi entregue somente em 2019, trazendo Mahershala Ali e Stephen Dorff como protagonistas, sendo muito melhor elaborada e trazendo, pela primeira vez, um protagonista negro e representatividade racial nas telas.

A quarta temporada vem cinco anos depois, com uma mudança muito positiva: foi dirigida, escrita por mulheres e será protagonizada por elas também. A diretora mexicana Issa López traz Jodie Foster e Kali Reis no papel tradicional da dupla de detetives, as colocando sob o frio extremo e as noites intermináveis do Alasca, quando os oito homens que operavam uma estação de pesquisa desaparecem.

No dia 01 de dezembro, a convite da HBO Max, estivemos no Hotel JW Marriott na coletiva de imprensa de True Detective: Terra Noturna, na presença de Issa López, Jodie Foster e Kali Reis, que puderam compartilhar um pouco sobre as experiências de filmagens e criação, bem como sobre as expectativas quanto ao retorno da série.

A representatividade feminina dentro e fora das telas deu o pontapé inicial da conversa. Jodie Foster bem destacou que, no início de sua carreira, jamais imaginou que uma mulher pudesse estar na direção, uma vez que não havia qualquer referência sobre isso.

Issa López falou sobre suas inspirações. A diretora, que tem um relevante histórico em comédias românticas, revelou que trouxe muito de John Carpenter e Stanley Kubrick como referências para a temporada, sempre com o objetivo de acrescentar algo novo à série. Ainda sobre isso, foi destacado por ela o quão desafiador é atender a essa inovação, pois, principalmente no universo da televisão e especificamente em True Detective, muito já foi feito. López afirma que lhe foi concedida plena liberdade criativa pela HBO, mas alguns detalhes específicos da série precisavam ser mantidos ou atendidos, como, por exemplo, dois protagonistas lidando com alguma questão do passado, ou discutindo, em algum momento da temporada, os significados da vida enquanto dentro de um carro, como vimos nas anteriores.

Alguns detalhes sobre as personalidades conflitantes (uma marca da série) da dupla de protagonistas foram abordados na coletiva. Foster, falando sobre sua personagem Liz Danvers, disse que “A ama porque ela é honesta”. Ao mesmo tempo que trata-se de uma personagem um tanto, como nas palavras da atriz, “cretina”, revelou que Danvers é inconsciente sobre como afeta as pessoas. “O mundo mudou de um jeito que ela não entende”. O trabalho de Kali Reis envolveu adaptar o perfil de sua personagem, Evangeline Navarro, como exata oposta de Liz Danvers, e a atriz, que é boxeadora profissional e está em seu terceiro trabalho de atuação, afirmou aos presentes que Jodie Foster a deixou bastante confortável durante as filmagens, e a própria Foster elogiou a presença poderosa de Reis em tela.

Issa López ponderou, ainda, sobre a essência de True Detective, obrigatoriamente presente nesta temporada, que coloca plots que não existem somente por si, mas funcionam como desculpas para aprofundamento naquilo que mais lhe interessa: a revelação de seus personagens. Foi dito por ambas as atrizes o quanto as personagens de cada uma se complementam, havendo um certo ódio e respeito entre elas. O que as conecta é a obsessão pelo trabalho.

A produção de True Detective: Terra Noturna foi iniciada ainda na pandemia, o que, como trouxe a diretora, obrigou que o roteiro fosse escrito em vários locais do mundo, uma vez que o Alasca sofreu bastante com o número elevado de casos de Covid. Foi somente quando a pandemia caminhava para o seu fim que a produção pode efetivamente se reunir. Outro óbice a ser enfrentado no Ártico foi o frio extremo. Jodie Foster nos diz que ficou doente por cerca de 10 dias, perdendo sua voz nesse período, mas que o trabalho e o time de filmagem foram tão bons que ela logo se esqueceu da doença. Kali Reis revelou que sofreu, particularmente, com o frio, fazendo a diretora brincar que, por vezes, precisava pedir que a atriz mostrasse mais seu rosto e cabelo, uma vez que estava sempre coberta por roupas e toucas que lhe cobriam a face, deixando somente os olhos visíveis.

De fato, com Jodie Foster no papel de detetive, é inevitável não conectá-la com O Silêncio dos Inocentes e Hannibal Lecter. A atriz falou sobre como sua Clarice Starling não via Lecter como um monstro, enquanto todos os demais o colocavam numa caixa definidora. Seu diferencial estava em entender o assassino, e com isso, chegar na solução do caso.

Já há sinais no trailer, e diretora e atrizes confirmam que há um sentido ancestral que permeia a narrativa da nova temporada. O Alasca é uma terra onde o capitalismo devastou e ainda devasta a terra que pertence aos povos originários. Nesse sentido, revelou-se que haverá uma forte representatividade indígena, inclusive na própria estética da série. O figurino, assinado por Alex Bovaird (White Lotus, Docinho da América) trará muitos elementos indígenas, a incluir itens feitos à mão pelas comunidades locais e que foram emprestados para a produção.

Sobre a presença ancestral em True Detective: Terra Noturna, Foster diz que, de alguma forma, foi sentida por todos ali. A atriz nos conta que muitas coisas naturalmente costumam dar errado num set de filmagens. Na gravação da temporada, antes que as filmagens iniciassem, todos plantaram uma árvore, rezaram cada qual ao seu modo e pediram aos seus ancestrais que tudo desse certo. Segundo Jodie, tudo realmente pareceu funcionar e dar certo.

De fato, a inovação de True Detective: Terra Noturna já começou – a presença feminina dentro e fora das telas fala por si.  Por mais que seja relativamente tardia, essa representatividade é comemorável quando estamos diante de uma série de excelência, mas extremamente masculina. Que esse espaço seja ocupado a longo prazo!

True Detective: Terra Noturna estreia em 14 de janeiro de 2024 na HBO Max.

Author

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *