A Disturbance in The Force | 2024

Em 1978, pouco mais de um ano após o lançamento de Star Wars IV: Uma Nova Esperança, a TV estadunidense exibiu The Star Wars Holiday Special. O programa, relacionado ao feriado de Ação de Graças, de tão horrível e infame, nunca mais foi exibido, e se tornou algo que George Lucas e todas as pessoas envolvidas, incluindo Harrison Ford, Carrie Fisher e Mark Hamill preferem esquecer. No programa, o foco é a família de Chewbacca, que aguarda a chegada do wookie para comemoração do “Dia da Vida” em seu planeta. Entretanto, The Star Wars Holiday Special, muito embora jamais tenha sido lançado oficialmente, alcançou hoje, perante a legião de fãs mais fidelizados da franquia, o status de cult e raridade.

A Disturbance in The Force, dirigido por Steve Kozak e Jeremy Coon,  procura, como ideia principal, dissecar tudo que ocasionou o fracasso dessa produção que se tornou “a pior coisa que a TV já exibiu”, que teve a menção proibida pela Lucasfilm, mas que no fim das contas, se tornou um fenômeno para “os verdadeiros fãs”. Com um tanto de sensacionalismo, o documentário, que inicialmente soa dinâmico, nos lança num ritmo tão frenético que fica difícil acompanhar todas as pessoas que são entrevistadas, (e que se mencione, em sua esmagadora maioria homens) desde os diretamente envolvidos no projeto até especialistas em Star Wars que trazem suas opiniões e pensamentos sobre o assunto.

O filme instiga um mistério sobre a existência de The Star Wars Holiday Special, como se algo de muito profundo estivesse por trás de sua elaboração. A união entre anos 70 e cocaína é a primeira justificativa. Não que tal não seja, certamente, um impulsionador para muitas criações (para o bem ou para o mal). Na década dos primórdios dos blockbusters, inúmeros especiais musicais eram exibidos na TV estadunidense, como forma de reunir a família em frente ao aparelho. O filme rodeia entre muitas pessoas entrevistadas, dramatizações cômicas que reproduzem o nerd obcecado, opiniões diversas, trechos do especial, conflitos que realmente foram inúmeros, para que tudo seja resumido em um isolado e principal motivador: The Star Wars Holiday Special foi uma má e caoticamente elaborada estratégia de marketing que deu (muito) certo.

The Star Wars Holiday Special nada mais é do que um programa de variedade dentre muitos outros da época, cuja temática afasta-se totalmente da raiz do projeto principal, mas que visava, acima de tudo, engajar pessoas entre o Episódio IV, que já havia sido um sucesso nos cinemas, e o Episódio V que viria alguns anos depois. Como um projeto recente, mas com muita possibilidade de expansão e potencialmente lucrativo, prejuízos precisavam ser evitados, e garantir o volume de pessoas nos cinemas quando do lançamento do próximo filme era necessário. O especial de Ação de Graças veio, justamente, para fazer essa ligação entre os filmes e cativar multidões em prol da franquia. O fato de ser um programa de TV em que stormtroopers dançam alegremente e onde Darth Vader canta abraçado com Chewie, constituiu mais uma estratégia para que toda a família, a incluir as crianças, fossem atraídas ao universo Star Wars.

Ao mesmo tempo em que o especial de TV era lançado, a Lucasfilm lançava uma linha de brinquedos que precisavam ser encomendados, tamanha a demanda. Comic books derivados de Star Wars surgiam e o universo expandido era delineado. As táticas de vendas daquele tempo reverberam no tremendo sucesso que ainda hoje não encontra limites, e isso notoriamente não significa que a qualidade criativa das produções seja uma prioridade. Assim, da obviedade das intenções do projeto, qualquer obscuridade que A Disturbance in The Force tenta lançar ao, por exemplo, questionar “Como Lucas permitiu isso?” fica muito fragilizada.

O caos da produção, a entrada de pessoas em razão do abandono de outras, a vibe criada sobre a existência de algo tão ruim, a insatisfação e o constrangimento de George Lucas, dos atores e atrizes, no fim das contas, atingiu seu objetivo maior que era criar o engajamento das pessoas ao projeto e trazer lucros. A Disturbance in The Force parece, também, carregar esse propósito, principalmente após o cansaço até do mais tóxico fandom antes as inúmeras séries derivadas do universo e o péssimo Star Wars: The Rise of Skywalker, é necessário algo para reavivar os ânimos, ao menos, dos mais fidelizados.

Essa crítica faz parte da nossa cobertura do CPH:DOX 2024, leia mais aqui