Curtas-Metragens do Festival de Tribeca 2024

Curtas-Metragens do Festival de Tribeca 2024

Ripe! | Dir. Tusk | EUA, Espanha

Ripe! foi agraciado com o prêmio de melhor curta-metragem narrativo do Festival de Tribeca 2024. De fato, é uma obra lindíssima e cheia de energia e amor adolescente, que vem naturalmente acompanhada de algumas frustrações e hesitações das descobertas da idade, sobretudo porque aborda o crescimento da relação entre duas meninas incertas da retribuição do sentimento que nutrem uma com a outra.

O ensolarado litoral espanhol serve ao filme para manter qualquer tempo ruim afastado nesse conto de férias veraneias, facilitando o uso predominante do azul celeste que, entre céu e mar, é também refletido nos figurinos e espaços. A garota estadunidense, Sophie (Raina Landolfi) que faz intercâmbio na Espanha e tarda a conquistar amizades, vê-se atraída por uma garota local, Gloria (Rita Roca), que em seu contraponto, veste-se de roupas coloridas. O sentimento entre elas é perceptível por sinais doces como a provocação e a brincadeira, que culmina quando, numa partida de futebol, Sophie acaba por causar o braço quebrado da outra. Entre avanços e recuos, ambas reprimem sentimentos pela incerteza da mutualidade. 

O caráter de memória dessa história de amor queer adolescente, ressaltado pelas imagens ora pouco nítidas, ora pelos primeiros planos de Sophie comendo um pêssego e nos fixando olhares como se recordando os acontecimentos, torna Ripe! uma deliciosa e agridoce férias de verão.

Nota:

Pastrana | Dir. Gabriel Motta e Melissa Brogni | Brasil

A velocidade que faz impressionar e enriquecer a imagem cinematográfica e as memórias de uma amizade que se formou ao redor do skate, transforma-se para ser temida, para causar arrepios. No curta brasileiro Pastrana, que teve sua premiere norte-americana no Festival de Tribeca, Gabriel Motta e Melissa Brogni recordam o legado de Alysson Pastrana, um skatista catarinense extremamente talentoso, promessa na modalidade da velocidade, que sofreu um assustador acidente num campeonato mundial ocorrido em 2018 no Rio de Janeiro, tragicamente falecendo com apenas 18 anos.

Os diretores não permitem que a tragédia tome conta do filme. Se não conhecemos o esportista, sequer sabemos, até o encerramento do curta, qual foi o seu triste destino. O que prevalece é a ideia da preservação da memória de Pastrana como garoto incrível que foi, como prodígio naquilo que fazia, e na compreensão do tempo das imagens como elemento que o mantém vivo. O material filmado por Melissa Brogni, amiga íntima de Pastrana e narradora do filme, é admirável, capturando ângulos magnéticos da prática do esporte.

A narração permite à diretora um diálogo direto com Pastrana, um espaço para exaltar o tempo vivido, mas também para  indignar-se com aquilo que não pode ser explicado, e, menos ainda, modificado. Uma belíssima representação brasileira no Festival de Tribeca.

Nota:

Lice | Dir. Vindhya Gupta | Índia, EUA

Tal como Ripe!, Lice vai se construir a partir da relação entre duas adolescentes. Aqui, entretanto, as meninas Roshni e Chakor vão partir da inimizade que se transforma por motivos de necessidade de manter um segredo: o piolho. 

No ambiente escolar interiorano, onde tudo é neblinoso e acinzentado, Chakor é uma garota perseguida pelas demais, e Roshni é parte dessa perseguição. A diretora trabalha bem a insegurança e o isolamento ocasionado pelo bullying, usando de sentimentos e ações muito naturais e humanas, como a curiosidade, a mentira e mesmo uma certa maldade, principalmente na transição entre infância e adolescência, onde ainda não há domínio completo dos sentimentos.

A aproximação das duas é bonita e inocente, e o próprio ato de procurar piolhos se torna um elo de sororidade e acolhimento.

Nota:

Oh, Christmas Tree | Dir. Katie Aselton | EUA

Encabeçado por Mark Duplass, que atua, produz e assina o roteiro, Oh, Christmas Tree traz como pano de fundo as tradições natalinas para abordar uma inversão de papeis familiares no que diz respeito ao cuidado e às preocupações. Claire (Ora Duplass), uma adolescente de 16 anos, vai passar alguns dias com o pai, Ben, numa cabana, onde eles recriam costumes natalinos na tentativa de manter uma normalidade diante de um passado doloroso ainda muito recente.

O curta inicia-se alegre e cafona, com a cantoria de músicas natalinas das mais conhecidas, e vai tornando-se mais pesado e triste na medida em que notoriamente insere-se uma atmosfera de incômodo entre eles, um desconforto em quererem agradar-se mutuamente, gelos que vão sendo quebrados com algumas doses de humor e amor paterno.

Um filme familiar agridoce e leve, que se mostra família também em sua produção: Katie Aselton e Mark Duplass são casados, e Ora Duplass é uma das filhas do casal.

Nota

Acompanhe toda nossa cobertura do Festival de Tribeca aqui.

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