O Exorcismo | 2024
Um filme-homenagem que cai nos clichês, mas traz boas referências
Estrelado por Russell Crowe, O Exorcismo, filme dirigido por Joshua John Miller, traz o ator veterano de volta ao universo do “terror religioso”. Depois de seu papel em O Exorcista do Papa (2023), onde Crowe interpretou o personagem que representa a figura real do Padre Gabriele Amorth, Exorcista Chefe do Vaticano e que arrecadou milhões em bilheteria, aqui ele encarna um ator problemático e decadente que tenta voltar à ativa, participando de um filme onde ele interpreta um padre.
Embora muitas semelhanças possam ser apontadas, as únicas relações entre esses dois filmes são a presença do astro vencedor do Oscar e sua temática religiosa e fantástica. O Exorcismo, desde o início, mostra-se uma obra que se declara à outra. O diretor, que é filho do já falecido ator Jason Miller, conhecido por ter interpretado o Padre Damien Karras no filme O Exorcista de 1973, de William Friedkin, faz uma espécie de filme-homenagem à obra de Friedkin e a seu pai.
Somos introduzidos ao ambiente do set de filmagens de um novo longa de terror, onde o ator que viria a interpretar o padre exorcista no filme de Peter (Adam Goldberg) circula pelo cenário ensaiando sua fala. Composto por cômodos que simulam uma casa de dois andares, bem semelhantes aos do filme de 73, o ator se posiciona frente a cama e diz “agora eu falo, ela vomita e depois eu morro”, referenciando a icônica cena interpretada por Linda Blair. Acontece que, em poucos instantes, o referido ator sofre um acidente no set e morre, precisando então ser substituído.
Peter aposta em Anthony Miller, “Tony” (Russell Crowe), para dar continuidade ao filme. O protagonista, um ator veterano, afastado por problemas com alcoolismo depois do falecimento de sua esposa, vive uma relação conturbada com sua filha adolescente, Lee (Ryan Simpkins). Tony, personagem que, não por acaso, leva o mesmo nome do pai de Joshua Miller, evidencia ainda mais O Exorcismo como uma obra afetiva do diretor estreante em longas-metragens de terror, que atuou como roteirista no divertido Terror nos Bastidores (2015) e como ator, desde bem novo, no violento A Guerra dos Donos do Amanhã (1990) e em Halloween III – A Noite das Bruxas (1982).
Por trás da trama envolvendo a gravação do longa de Peter, temos um drama familiar, onde Lee tenta entender os demônios de seu pai, que vivera anos afundo em depressão e tenta voltar a ativa, em um projeto que resgata ainda mais as obscuridades de seu passado católico. Por meio de flashbacks, muitas vezes repetitivos e cansativos, recebemos pistas de que Tony esconde um histórico traumático envolvendo seus anos como membro da igreja. Gatilhos mentais são ativados quando ele se depara com Padre Conor (David Hyde Pierce), um padre que fora contratado como consultor para auxiliar nas filmagens e na construção do personagem de Tony. Ele mira com olhar petrificado para o colarinho da batina de Conor e passa momentos atormentado por lembranças que acabam gradativamente o levando a comportamentos violentos.
Lee é uma personagem bastante presente, sempre acompanhando o pai nos bastidores das filmagens, como castigo por ter sido suspensa da escola. A adolescente tenta dar mais carga dramática e também representa o elenco jovem, junto a Blake Holloway (Chloe Bailey), uma atriz que faz a menina possuída pelo demônio, e que precisa ser exorcizada por Tony em cena. Lee e Blake desenvolvem uma amizade e um flerte, que se intensifica. O núcleo, que é composto por uma mulher negra e duas jovens LGBT, pincela ideias com certa superficialidade, mas o filme mostra a intenção de incluir esses temas.
O Exorcismo funciona como um filme para fãs. Se você capta as diversas referências existentes no longa, ele faz mais sentido e se torna uma obra interessante. Por outro lado, como uma obra isolada de terror, segue a cartilha de certos clichês do gênero, como flashbacks, uns jumpscares, as cenas de possessão e conflitos religiosos, adornados por boa fotografia. Surfar na onda do sucesso de Crowe no gênero parece um negócio promissor, o ator já está confirmado para a sequência de O Exorcismo do Papa, que não ganhou ainda data para estreia, e tem sido devidamente relembrado por seu trabalho em Gladiador (2000), por causa da sequência que estreia ainda esse ano, dirigida por Ridley Scott.