Black Mother | 2018

Black Mother | 2018

Um filme-ensaio sobre a gestação de uma Jamaica que quer renascer

Três trimestres. A duração da gestação humana serve de divisor para os capítulos que o diretor Khalik Allah vai fragmentar a sua ideia de Jamaica em Black Mother, como um país que, de tão violentado e desordenado pelo colonizador, ainda busca nascer, renascer e se reencontrar nas esferas política, cultural e religiosa. 

O filme-ensaio, que vai divagar através de imagens desaceleradas sob uma narração de ideias que não acompanha o tempo daquilo que vemos, vai trazer a representação de seu povo como num diálogo aberto e livre que o diretor promove, principalmente no reforço de sua resistência. Caminha desde a destruição da civilização negra pela escravização de pessoas, ao surgimento dos guerreiros Maroon, que escaparam do regime para formarem comunidades livres, até a luta pela manutenção do espiritualismo entre o cristianismo imposto pelos britânicos e o rastafari que se opõe à religião europeia. Exalta a abundância de frutas que lá são cultiváveis, valoriza a alimentação natural contra a falsa e industrializada que adoece a população, e a maconha como meio de amadurecimento da mente. Em tudo, há uma presença muito forte da espiritualidade, a chuva, a erva, o alimento que vem da terra – todos como meios de elevar as dimensões que o ser humano pode alcançar.

Quem gesta essa Jamaica que vemos é a mãe negra, a mulher que precisa ser reconhecida e que dá e deu a luz a todos, a mãe natural, a mulher verdadeira, a realeza do país. O diretor coloca ao lado dessa figura materna sublime, prostitutas que em suas profissões se submetem ao risco de doenças, sequestros e assassinatos. São essas, também, mulheres que gestam e concebem vida.

O terceiro e último trimestre da gestação de Black Mother vem como caos que antecede o nascimento. Diz respeito aos novos aprisionamentos tecnológicos, celulares e carros que se contrapõem à espiritualidade que vive no povo. As belíssimas imagens do fogo que se acende e permanece na água remetem à ideia da renovação, de mais um ciclo que se fecha para que outro se inicie nesse renascimento.

Black Mother fez parte da Open Doors Screenings do 77º Festival de Locarno.

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