Retomada | 2024

Retomada | 2024

Um grito de ocupação de espaços e de redescoberta de ancestralidade

É fato que histórias indígenas foram apagadas pela colonização, pelo assassinato e pela escravização dos povos originários. Dentre tantas consequências, para além da remanescência de indivíduos que desconhecem suas origens e seus antepassados, torna difícil a autoidentificação – hoje, pessoas não sabem e não conseguem se afirmar como indígenas. Os motivos são estratégicos – muito pela ignorância propositalmente lançada quanto ao apagamento desses passados, e muito pela imagem preconceituosa incutida em nosso subconsciente sobre a figura do indígena como aquele que anda nu e vive no meio da floresta, ao estereótipo do preguiçoso. Imagens que, desde crianças, nos são mostradas através dos livros nas escolas.

Retomada, documentário dirigido por Ricardo Martensen e que ganhou uma exibição especial no CineAlter 2024, é um grito de ocupação de espaços por pessoas indígenas, de redescoberta de ancestralidade e de saberes esquecidos, de autoconhecimento, de resistência a partir da aquisição e transmissão de aprendizados. A tomada de consciência só é possível através da educação e da transmissão das sabedorias que foram roubadas pelo colonizador, e o diretor é didático e insistente nesse ideal de (re)apropriação de culturas para reforço dos espaços a serem retomados.

O direcionamento do olhar de Martensen é sobre as cidades localizadas entre os rios Tapajós e Amazonas, principalmente na região de Santarém – PA. A chegada da grilagem e dos sojeiros sonda como uma ameaça que se aproxima, tornando-se necessária a união das dezenas de comunidades indígenas daquela região, cada uma particular e diferente da outra, em prol da politização de pessoas como arma nessa luta. O desafio, portanto, é recordar e relembrar que pessoas indígenas podem fazer parte da população urbana como um todo, e estão inseridas em trabalhos e rotinas comuns, e com isso atraí-las ao combate, engajar aqueles que não necessariamente vivem nas comunidades e aldeias. Daí, a necessidade de se conscientizar e trabalhar a autoidentificação daqueles que desconhecem seus passados.

Em que pese soe um pouco perdido na organização de suas ideias, com imagens bastante convencionais e muito utilizadas em filmes do gênero, como por exemplo, o uso de tomadas aéreas que percorrem rios e florestas, Retomada causa um impacto visual importante e é muito esperançoso, principalmente quando conta com a juventude para dar continuidade nesse processo de preservação da ancestralidade que foi perdida. 

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