Eephus | 2024

Eephus | 2024

Quando tudo ao redor se esvai e o que sobra é o amor ao jogo

A premissa de Eephus, longa-metragem dirigido por Carson Lund, é bem simples: o campo de beisebol em que há décadas juntam-se times amadores será destruído. Nele, será construída uma escola.

Com a data da demolição definida, marca-se a last dance: dois times reúnem-se para o que será a última partida no Soldiers Field, estádio atarracado, mas homônimo do grande estádio localizado em Chicago.

O início do longa, com os times chegando, cada um com seus uniformes e cada atleta com suas idiossincrasias, lembra, mesmo que de forma distante, o já clássico The Warriors, de Walter Hill. Afinal, “tudo ali é combate”, apesar do amadorismo dos praticantes.

Ao retratar essa chegada e, até mesmo, o início das partidas, há algo de muito bonito que surge: não há qualquer distinção entre jovens e idosos; todos podem jogar, denotando exatamente (e também) por isso o próprio amadorismo daquela prática desportiva. E engana-se quem confunde amadorismo com falta de seriedade ou de importância. O que ocorre ali é muito, mas muito importante para aqueles homens comuns, que possuem outras profissões, amam o esporte e nunca na vida estiveram perto de tornarem-se profissionais como os seus ídolos.

É exatamente isso que traz uma beleza ímpar ao longa de Lund: aqueles homens, irmanados pelo amor ao beisebol, estiveram ali todos aqueles anos e, juntos, já começam, antes mesmo da demolição do estádio, a sentir uma gostosa nostalgia, que contamina os espectadores. Afinal, o fim do estádio traz o fim de uma prazerosa parte da vida daquelas pessoas.

Apesar das brigas entre as equipes, dos duelos em campo, das provocações e do “combate” em si, o que permeia tudo ainda é o bom e velho companheirismo.

É interessante como o grande foco de Eephus se torna a comunidade, os jogadores, sem haver tanto enfoque em um personagem específico ou um protagonismo bem delineado. O principal é o grupo: aqueles apaixonados por beisebol que se tornarão órfãos daquele estádio pequeno em tamanho, mas tão significativo na história daquele grupo. É um filme sem vilões, sem antagonismos. Aqueles homens são irmanados pelo amor ao beisebol.

Eephus é, também, um filme acerca da masculinidade e do desejo de pertencer a um locus em que certos códigos são partilhados e onde o homem ordinário pode pensar, ao menos naqueles minutos de jogo, em ser o jogador que queria ser quando criança, mas nunca foi (e nem será); em participar de disputas épicas e acirradas tais quais aquelas que assiste apaixonadamente na televisão; ou apenas em participar, mesmo que não jogando, mas marcando o placar.

É o filme do amor do “homem comum” pelo jogo e por toda a atmosfera que ele traz consigo (as conversas no banco de reservas, as muitas cervejas tomadas durante o jogo, etc.), e isso, para alguns daqueles homens, é o que há de mais importante em suas vidas.

Nas vezes em que o filme faz apostas em cenas cômicas, elas não funcionam na maioria. O filme acaba por ter sérios problemas de ritmo, sobretudo quando, na narrativa, um dos jogos está demorando tanto que a luz natural do sol acaba. Há aqui um problema “definitivo”: considerando a ausência de refletores, o jogo precisaria terminar sem um desfecho. Mas ora, seria no mínimo desonroso com o campo que o seu último jogo terminasse daquela forma, sem um final definido. Assim, os jogadores posicionam os faróis dos seus carros direcionados ao campo, na tentativa de iluminá-lo, ainda que parcamente.

Essa cena se alonga muito mais do que o necessário, afetando a construção narrativa que havia sido realizada anteriormente. Talvez aí se aproxime do significado do nome do filme: eephus é uma jogada do beisebol, um lançamento feito pelo pitcher em que a bola “parece permanecer no ar por muito tempo”.

As tensões que surgem a partir dessa falta de iluminação, assim como a reiterada aposta no humor, não têm a força necessária e mais comprometem o bom andamento do filme do que o ajudam. Assim, Eephus é um filme bonito, que trata de algo muito honesto e significativo, mas pouco explorado, principalmente no Cinema: o amor pelo esporte que dispensa caminhões de dinheiro, grandes plateias, grandes estádios. Ele existe porque é parte de cada um daqueles homens que amam o jogo, e isso basta, sem exigir maiores explicações.

Nota

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  • O representante do Pará no Coletivo Crítico que, entre o doutorado em Direito e os jogos do Paysandu, não dispensa uma pipoca para comer, uma Coca Cola gelada para beber e um bom filme para ver.

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