Im Haus Meiner Eltern | 2025

Im Haus Meiner Eltern | 2025

Quem tem o dever de cuidar?

Quando um parente adoece, nasce uma questão ética: a quem cabem os cuidados da pessoa doente? Este é um interdito social, já que as convenções morais apontam uma responsabilidade intrínseca às relações familiares: a esposa trata do marido, os pais dos filhos, o primogênito cuida dos pais. Legislações foram criadas pautando essas supostas ligações parentais e seus papéis nessas situações, mas, ainda assim, existem tensões oriundas do machismo, do etarismo e do capitalismo. Im Haus Meiner Eltern (traduzido literalmente como Na Casa dos Meus Pais), de Tim Ellrich, traz as angústias de Holle (Jenny Schily) quando se vê tendo que lidar com o envelhecimento dos pais, a esquizofrenia de um dos irmãos e a desatenção dos outros dois aos problemas da família.

Ellrich cria uma atmosfera fria e melancólica, unindo a fotografia em preto e branco, a ausência de música e poucas movimentações de câmera, enquadramentos misteriosos que recortam rostos em close-up, com as atuações pálidas do elenco, principalmente de Schily. Mesmo os encontros familiares trazem poucos sorrisos, funcionando muito mais como simples formalidades do que afetos propriamente ditos. Portanto, é esse rigor formal do diretor que dá profundidade ao que vemos nas imagens, alimentando o drama do enredo até o fim. Holle, seus irmãos e seus pais sustentam o tabu da responsabilidade familiar, parecendo que a eles não é permitido tocar no assunto, onde até mesmo a câmera tem “medo” de olhar.

Isso muda a partir do momento em que as convenções do cuidado são abaladas. Quando a mãe idosa (Ursula Werner) sofre um acidente e não tem mais plena saúde para cuidar do filho esquizofrênico, Sven (Jens Brock), a quem será delegada tal função? O pai (Manfred Zapatka) se vê em desespero porque essa nunca havia sido sua tarefa dentro de casa, e, além disso, se dá muito mal com o filho. O quadro psiquiátrico de Sven se torna cada vez mais complicado, entregando-o à obesidade mórbida e ao silêncio. Holle, então, é colocada em xeque, visto que seus outros irmãos (interpretados por Kirsten Block e Peter Schneider) fazem pouco caso da situação e quase nunca aparecem em cena porque estão ocupados com outras coisas. Ela é inconscientemente eleita a cuidadora de Sven e aquela que precisa ouvir as lamentações do pai enquanto a mãe está no hospital.

Im Haus Meiner Eltern cresce em tensão à medida em que Holle começa a se angustiar com sua nova responsabilidade, algo que não foi escolhido por ela, mas que a coloca em um dilema entre a vontade e o dever. Em certo momento, há o questionamento por parte de seu marido sobre ser o amor familiar uma construção social: o que nos obriga a amar os parentes? Mesmo que Holle trate a pergunta com repulsa, ela está evidentemente dentro de si quando estoura o problema que move o filme.

Mesmo após o retorno da mãe, as relações daquela família estão mais voláteis. Os pais idosos não conseguem mais cuidar do filho, seja pela energia demandada ou pelo estresse causado. É como se eles estivessem se desacorrentando deste dever e o transmitindo para Holle. A princípio, ela nega, tenta de todas as formas achar um meio para uma internação ou para novos remédios que deem cabo ao sofrimento e dependência de Sven. Mas, diante de tal impossibilidade, e como a filha mulher mais velha, resta a Holle assumir esse papel que carrega todo o peso do moralismo que construiu a sociedade.

Na maior parte do longa, o diretor, que também é roteirista, é hábil para subentender a agonia da protagonista. O fato de sabermos já na primeira cena que alguém morrerá ao final não se sustenta em meio a trama, pois o suspense em torno dessa morte não tem força para se tornar relevante. Essa quebra temporal acaba sendo o maior deslize de Im Haus Meiner Eltern. Contudo, olhando através do dilema ético familiar, o filme funciona muito bem com a boa condução de Ellrich e a atuação de Schily.

O fato irônico de Holle ser uma espécie de terapeuta energética, alguém que supostamente ajudaria na cura de seus pacientes apenas passando as mãos sobre seus corpos e retirando as energias ruins, mas que não consegue lidar com seus próprios problemas, traz à tona o quanto somos dependentes das relações sociais e reféns das convenções. A família como o berço moral faz de Im Haus Meiner Eltern uma obra muito interessante sobre esse complexo tabu. Os antagonismos entre amor e dever, a saúde e a doença, o peso da responsabilidade e o alívio quando ela se vai, constituem a condição angustiante da existência humana.

Nota:

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