Reflection in a Dead Diamond | 2025

Reflection in a Dead Diamond | 2025

É um tanto satisfatório quando festivais tradicionais como a Berlinale abram seus espaços para que obras menos convencionais integrem mostras de maior destaque, que possam ser consideradas em equivalência às narrativas mais clássicas. A presença de Reflection in a Dead Diamond, dirigido pela dupla Hélène Cattet e Bruno Forzani, na mostra competitiva do Festival de Berlim 2025, vem reforçar a necessidade de valorização de todos tipo de cinema, em pluralidade de linguagens, em diversidade de narrativas e modos de se trabalhar a imagem.

Reflection in a Dead Diamond é uma obra experimental que fez muitas pessoas, em sessões exclusivas de imprensa, deixarem as salas de cinema. O incômodo consiste justamente no motivo para que outras como ela marquem presença em grandes festivais: o filme é majoritariamente sensorial e carregado de estímulos – sons exacerbados, cores, luzes, agilidade de cortes e, principalmente, fazendo jus ao seu título, a presença de elementos de reflexos que vão brilhar na tela. Diamantes, espelhos, água e vidros vão ser reproduzidos tanto em imagem como em som, sendo possível a oitiva do tintilar do diamante refletido de forma quase que constante.

Se os cortes ágeis remeterão a Godard, e as sequências contínuas que encontram símbolos e costuras em suas próximas vão fazer recordar Maya Deren, as personagens que reluzem tal qual os elementos valiosos que brilham serão as femme fatales e anti-heroínas à la 007. As mulheres de Reflection in a Dead Diamond vão vestir-se em roupas atraentes para roubar diamantes e assassinar homens, estando munidas de super poderes, como olhos de ciclopes. Seus próprios corpos serão arma: suas unhas, seus dentes prateados, seus cabelos, e suas próprias vestimentas servirão de instrumentos para as mortes que causam. Os diretores vão atentar nossos olhares a toques, sensações e aflições como as geradas, por exemplo, pelo vidro que adentra a pele em corte que eles fazem questão de mostrar em close. Sua violência não é exatamente sanguinolenta, mas refletida nos movimentos e nas sensações que arrepiam e nos fazem desviar o olhar, aumentadas pelo foco na expressão dos personagens, e raramente na ação toda.

Reflection in a Dead Diamond mostra-se um experimento feminista delicioso e vertiginoso na mesma medida. O prazer trazido pelos estímulos, pela capacidade de transformação da imagem por si só, independentemente se há ou não história a ser contada, se existe, ou não, algo a ser compreendido, ser hipnótico, é, ao seu modo, entretenimento puro. 

Nota:

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