Backside | 2025

Backside | 2025

Por trás do espetáculo há a força imigrante

Na cidade de Louisville, no Kentucky, Estados Unidos, acontece uma das maiores corridas de cavalos do país. Uma pista de aproximadamente dois mil metros, percorrida em dois minutos por puros-sangues que valem milhões de dólares. Em Backside, documentário dirigido por Raúl O. Paz Pastrana, acompanhamos, como diz o título, o outro lado desse evento. Entramos nos celeiros onde os animais são preparados diariamente por trabalhadores imigrantes latinos em jornadas exaustivas, sem a mesma aclamação dos cavalos ou dos cavaleiros.

Os letreiros iniciais nos contextualizam da grandiosidade do Kentucky Derby, como é chamada a competição secular, na cultura estadunidense. Mas este não é o foco, pouco vemos os cavalos em ação ou temos mais informações sobre a corrida. Desde as primeiras imagens estamos com os trabalhadores, que dias antes do Derby são incumbidos do trato com os animais, desde alimentação à limpeza. De dia ou à noite o movimento é incessante, cavalos são alocados de uma baia à outra, tomam banho, fazem tratamentos, recebem penteados. Esses momentos se repetem o filme todo, mas com personagens diferentes, evidenciando a rotina pesada dos funcionários do celeiro Churchill Downs.

Com exceção de uma pessoa, que é um homem negro e norte americano, todos que aparecem trabalhando são latinos, homens, mulheres e até mesmo um idoso. Pastrana monta seu filme dando pequenos espaços para cada um, acompanhando seus cotidianos entre a casa e o trabalho e deixando-os narrar suas relações afetuosas com os cavalos. O idioma que mais ouvimos é o espanhol, seja nas conversas entre eles, nas cantorias, no carinho com os animais, ou nos autofalantes do celeiro que passam recados à comunidade sobre encontros e festas culturais.

O primeiro terço de Backside dá ênfase à comunhão homem-animal, como se fosse isso o responsável pelo grande clímax que virá com a corrida. O primeiro personagem apresentado é o idoso, que tem um ritmo mais carinhoso e lento com os cavalos. O tempo, aqui, se arrasta com repetições de situações e ângulos de câmera, além de poucas falas. Quando o subtexto social aumenta e outros personagens aparecem, o filme flui com mais facilidade. A câmera, que por vezes hesitava em certos enquadramentos e errava no foco, parece se encontrar, os relatos crescem e se tornam mais interessantes. O diretor, então, acerta o rumo e as outras duas partes do filme são muito melhores.

Em tempos de Donald Trump, Backside é um documentário importante, que mostra que os imigrantes são parte indissociável dos Estados Unidos, espalham muito mais afeto e alegria do que recebem, mesmo que a todo momento sejam marginalizados e invisibilizados. O Kentucky Derby, cheio de brancos com roupas e chapéus extravagantes dispostos a apostar fortunas nos cavalos, só acontece graças a força latina e negra no backside.

Nota:

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