10 Grandes Produções Originais da Netflix

10 Grandes Produções Originais da Netflix

Mesmo o cinéfilo mais clássico e saudosista deve reconhecer a revolução que o streaming causou no Cinema. Já a nova geração, muito provavelmente, teve acesso à Sétima Arte justamente pelos canais de streaming, e não por uma fita VHS ou um DVD nas videolocadoras (hoje praticamente extintas). Com a popularização da internet e dos aparelhos eletrônicos, hoje podemos pagar uma mensalidade para ter um imenso catálogo de filmes e séries no conforto de casa. Além disso, há uma mudança ética no entusiasta do audiovisual: o ritual de ir até uma locadora ou ao cinema enfraqueceu.

Por um lado, pode-se dizer que a popularização do streaming  seja a democratização da arte; por outro, a massificação pela mídia. Ambas as perspectivas são válidas. Ao mesmo tempo que se tornou mais fácil ver um filme, também podemos ser facilmente manipulados pelo sistema. O Cinema sempre foi uma indústria de grande influência. Agora, com o advento dessa nova forma, é inegável e assustador perceber o quanto esse fenômeno se tornou viral. Se tomarmos como exemplo apenas a Netflix, canal de streaming mais popular hoje em dia, são 221,6 milhões de assinantes. Recentemente, após mais de uma década de crescimento, as assinaturas tiveram uma queda, muito por conta da guerra na Ucrânia e a chegada de concorrentes. Mesmo assim, é um número gigantesco e que deu uma renda de quase 8 bilhões de dólares no primeiro trimestre de 2022.

Em 2013 a Netflix deu início a suas produções originais com a série House of Cards. Desde então, foram mais de 700 obras audiovisuais produzidas pelo canal. Para 2022 já foram anunciados ao menos 28 novos filmes originais. A fórmula industrial permanece a mesma. A grande maioria desse conteúdo segue padrões comuns ao entretenimento barato, que replicam coisas pouco relevantes. Mas, a Netflix tem feito parcerias por todo o mundo, o que reflete em uma variedade cultural muito grande em seu catálogo. Produções de países como Coréia do Sul, Espanha, e até mesmo o Brasil, se tornaram populares. Aos poucos, grandes nomes do cinema acabam sendo atraídos pela liberdade e visibilidade que são oferecidas pelo streaming. Mesmo que ainda exista uma certa resistência das grandes premiações do Cinema, vários filmes do canal ganham notoriedade e disputam as principais categorias.

Levando em conta o sucesso da Netflix e a variedade de conteúdo disponibilizado, propomos aqui uma lista que não é hierárquica, mas que tem por objetivo indicar bons filmes que levam o selo do streaming. Queríamos fugir do convencional e daquilo que anda nas listas de top 10 dos mais assistidos para abrir espaço a valiosas produções e parcerias firmadas pelo canal por todo mundo. Essa nova forma de ver Cinema deve ser considerada, entretanto, com a devida atenção e sempre criticamente.

1. Divinas (Houda Benyamina, 2016)

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O filme de estreia da diretora franco-marroquina Houda Benyamina ganhou uma pequena notoriedade quando indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, mas, mesmo assim, pouco se ouviu falar nele depois disso. Divinas nos revela as periferias parisienses e a condição relegada aos imigrantes, algo que pouco pensamos ao lembrar de todo vislumbre da belíssima Paris. Pela ótica de personagens adolescentes femininas, a estrutura segregativa é o que constrói um ambiente violento onde as oportunidades não chegam pelas mãos do poder público, mas pela criminalidade.

As amigas Dounia e Maimouna vêem no tráfico o dinheiro mais fácil para saírem do subúrbio. Em meio a todos os dilemas já presentes na juventude, a questão social atravessa os sonhos das garotas, que, aos poucos, têm suas perspectivas entrecortadas pela lâmina da realidade. Cabe fazer um destaque a atuação da também estreante Oulaya Amamra, que interpreta Dounia, a jovem que tem a revolta nos olhos, ao mesmo tempo em que carregam o brilho da esperança e a simplicidade do afeto. Um filme imperdível para os assinantes da Netflix!

2. Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe (Noah Baumbach, 2017)

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Com um subtítulo ridículo em português, digno dos piores filmes da sessão da tarde, Os Meyerowitz é uma das melhores obras do renomado diretor e roteirista Noah Baumbach (grande parceiro de Wes Anderson). Aqui ele mantém o seu peculiar humor existencialista contando a história da problemática família que precisa lidar com problemas de relacionamentos, crises artísticas, inseguranças e a velhice. O elenco é recheado de estrelas da comédia, e que fazem juz a fama com grandes atuações: Dustin Hoffman é o pai e artista plástico frustrado, Adam Sandler, Ben Stiller e Elizabeth Marvel os filhos e Emma Thompson a madrasta. 

No ímpeto de dar um ânimo ao pai e seu devido reconhecimento pela arte, Jean organiza uma exposição com suas obras. O evento acaba virando um símbolo para a reunião da família e estreitamento dos laços. Baumbach usa esse percurso para traçar as linhas já preconizadas pela psicanálise evidenciando os dilemas das relações familiares: não escolhemos nossos parentes, mas vivemos com eles e recebemos suas marcas. Aqui é o temperamento e indelicadeza do pai que rasgam as feridas mais profundas. À legião de fãs de Adam Sandler, Os Meyerowitz o traz em sua melhor forma, até mesmo em comparação com o incrível Jóias Brutas, no papel do filho mais afetado pelas mazelas familiares. 

3. Lazzaro Felice (Alice Rohrwacher, 2018) 

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Premiado como melhor roteiro no festival de Cannes em 2018, Lazzaro Felice é uma pérola escondida no catálogo da Netflix. O filme tem humor típico dos grandes clássicos italianos, mas a acidez de uma crítica extremamente atual sobre o mundo capitalista e a opressão do proletariado. 

Na pequena comunidade conhecida como La Inviolata vive um grupo de produtores de fumo. Mais de 30 camponeses subsistem em condições precárias empilhados em casebres, onde dividem camas e o uso de lâmpadas nos cômodos. Todos trabalham brutalmente todos os dias. Lazzaro é um jovem que faz parte desse grupo. O que o faz destoar dos demais é sua personalidade ingênua e divagante. Muitas vezes o coitado é explorado pelos colegas, mas pouco se importa em fazer tudo que lhe é solicitado. Logo descobrimos que o sistema exploratório daquele lugar é muito mais complexo e não se aplica apenas a Lazzaro. Toda a comunidade trabalha de forma escrava para a “rainha do tabaco”, dona da propriedade.

Aquele povo parado no tempo é descoberto e toda a crueldade das relações de trabalho presentes ali aparecem junto. Há uma falsa libertação que recai em um outro tipo de escravidão, este muito mais notável nos dias atuais em qualquer cidade grande brasileira ou italiana. Mas há também uma crença na humanidade pelos olhos de Lazzaro, como uma centelha divina em todo o caos da vida e da situação daquelas pessoas. A cineasta Alice Rohrwacher precisa ser vista e reconhecida pelo grande público e Lazzaro Felice é sua obra-prima. 

Clique aqui para ler a crítica completa escrita por Vinicius Costa.

4.Girl (Lukas Dhont, 2018)

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Em 2022 muito se ouviu falar do diretor belga Lukas Dhont e seu filme Close, ganhador do grande prêmio da crítica em Cannes. Mas, antes disso, em 2018, o filme de estreia do cineasta já havia emocionado o público e conquistado a câmera de ouro, premiação para realizador estreante, e o Queer Palm, dedicado à temática LGBTQIA+, com o Girl. Mesmo levando o selo da poderosa Netflix, inexplicavelmente o filme ainda não tem o reconhecimento que mereceria. 

Talvez o mais pesado entre todas as obras desta lista, Girl trata da história de Lara, garota transsexual de 15 anos que sonha em ser bailarina. Dhont aborda a temática com uma crueldade que deixa o espectador em diversos momentos com receio de olhar a tela. Mas, no fundo, todos sabemos o quanto fatos como os mostrados ali são vivenciados todos os dias por pessoas na mesma situação. O doloroso processo de aceitação e mudança de sexo evidencia os caminhos mais sórdidos do preconceito e o desprezo que podemos sentir pelo ser humano asqueroso que não aceita a liberdade do outro. Por outro lado, o diretor trabalha a relação familiar de Lara com uma sutileza que nos enche de esperança. 

Por mais que o fato tenha levantado uma certa polêmica nos festivais mundo afora, o ator cisgenero Victor Polster que interpreta a protagonista, também premiado em Cannes, merece reconhecimento por seu excelente trabalho em cena. É um filme doloroso, porém necessário, que os assinantes da Netflix tem a possibilidade de assistir em um clique.

5. A Balada de Buster Scruggs (Ethan Coen e Joel Coen, 2018)

Dirigido pelos irmãos Coen e dividido em 6 curtas metragens ao longo de 2 horas de duração, esta é uma antologia ambientada no Velho Oeste que merece ser assistida.

Mesmo que algumas histórias sejam mais dinâmicas e envolventes que outras, é interessante acompanhar o gênero faroeste, clássico no cinema americano, ser retratado de diferentes formas, do humor às discussões existencialistas.

6.  Ya No Estoy Aquí (Fernando Frías de la Parra, 2019)

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Esta produção mexicana da Netflix se inicia com a fuga de Ulisses, jovem de 17 anos apaixonado pelo ritmo da cumbia, para o Estados Unidos com o intuito de escapar da violência do crime organizado.

Como um retrato melancólico da vida de jovens que crescem em um contexto de violência e preconceito, também é uma análise do que forma nossa identidade e nos torna ligados à nossa cultura.

7. Estou Pensando em Acabar com Tudo (Charlie Kaufman, 2020)

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A premissa de Estou Pensando em Acabar com Tudo poderia ser resumida de forma bem simplória: uma jovem sai em viagem para conhecer a família de seu namorado e repensa seu relacionamento. Mas, aqueles que conhecem a obra de Charlie Kaufman já sabem o que esperar. Mesmo quando era apenas roteirista, Kaufman já era famoso por sua escrita intrigante e inteligente. Aqui não é diferente e, diria, ainda mais aprimorada que em outros momentos. É certo que o filme é baseado em um livro, mas em pouco tempo já se nota as características do agora também diretor. 

O pretexto do filme é apenas a beirada de um abismo psicológico vivido pela protagonista Lucy. Quando nos damos conta já estamos caindo em seus dilemas sobre o que é um relacionamento e quais são suas condições e implicações na vida pessoal. O pensamento em acabar com tudo ganha tons assustadores e retratam as profundezas da psique humana: tudo se passa dentro de um espaço que não é mais aquele físico da casa dos sogros, mas uma mente perturbada por um problema cotidiano e comum. O que não é comum é a forma como o diretor a mostra e esse é seu grande mérito reconhecido várias vezes. Vale destacar também que esse filme ajudou a mostrar ao mundo dois grandes atores que vem ganhando espaço nas telonas nos últimos anos: Jessie Buckley e Jesse Plemons.

8. Rosa e Momo (Edoardo Ponti, 2020)

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Retorno às telas da lendária atriz italiana Sophia Loren, em uma interpretação sensível e marcante, com destaque para a cena em que aparece dançando ao som de Elza Soares.

O filme é uma adaptação do livro “A Vida Pela Frente”, narrando o encontro entre uma ex-prostituta e um jovem de 12 anos que vive de pequenos roubos, que mesmo com seus traumas e conflitos, constroem uma relação de afeto entre si.  

9. O Tigre Branco (Ramin Bahrani, 2021)

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Apresentando um contraste evidente com o vencedor do Oscar “Quem Quer Ser Um Milionário”, essa produção indiana aposta em uma abordagem crua e cínica que o aproxima bem mais de “O Parasita”.

Narrado pelo ponto de vista de um protagonista de moralidade duvidosa, o filme retrata por meio de flashbacks a ascensão social de mero motorista a empreendedor, com uma crítica à desigualdade social da Índia e à falta de oportunidades para quem “quer sair do galinheiro”.

10. A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (Michael Rianda, 2021)

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Aproveitando bem as possibilidades da animação, este projeto se utiliza de diversas referências pop e cinematográficas que agradam os fãs do gênero.

Vale acompanhar a saga da família, que procura resolver os problemas de comunicação entre a filha adolescente e o pai antiquado, enquanto enfrenta a ameaça da dominação global das máquinas.

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