Nove filmes de Natal para o fim de ano

Nove filmes de Natal para o fim de ano
Filmes fora da curva também podem ser considerados filmes natalinos, para quem gosta de um bom clássico e de descobrir coisas diferentes, seguem indicações do Coletivo Crítico para embalar suas férias!

Está chegando uma das épocas mais festivas do ano: O Natal, e com ele o recesso de fim de ano, que é ideal para relaxar e ver filmes que nos expressam um pouco desse clima. A lista abaixo é a contribuição do Coletivo Crítico para filmes que embalam (ou não) o espírito natalino. Cada indicação é feita por um membro do Coletivo e conta com filmes para todos os gostos, desde clássicos, até obras mais inusitadas. Prepara a pipoca!

1. DE OLHOS BEM FECHADOS (1999, de Stanley Kubrick)

Indicação de Vinicius Costa

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Certamente a grande maioria dos leitores e leitoras se lembre do Natal como o evento ritualístico de reunião familiar, do espírito caridoso, ou, então, pelo viés religioso, do nascimento de Cristo. Mas, frustrando os mais puristas, é preciso evidenciar o caráter político que envolve essa data, e por este motivo indico o derradeiro filme do mestre Stanley Kubrick. Não é exatamente o filme natalino que acalenta os corações trazendo o despertar da bondade humana, pelo contrário, a ideia aqui é desmascarar um tipo muito específico de ser humano, a burguesia. 

Kubrick habita seu filme no fim de ano, véspera de Natal, e mesmo assim mantém seu olhar frio sobre a humanidade. Bill (interpretado por Tom Cruise) é um renomado médico que claramente atende os mais abastados da sociedade. São os eventos em torno dele que derrubam as máscaras da burguesia. Seu relacionamento com Alice (Nicole Kidman) é o maior artifício de seu falso moralismo e que precisa ser mantido de qualquer forma. Os olhos são bem fechados para as bizarrices da classe alta, que Bill presencia através de um outro tipo de ritual que não é o de Natal, mas uma espécie de orgia. 

O Natal é substituído por sexo e drogas em De Olhos Bem Fechados. Bill vê sua vida em risco por adentrar no submundo dos mais ricos, mas aprende que as aparências devem ser mantidas. Isso é algo que Alice parece já saber e é capaz de suportar a situação para manter a imagem da boa família rica que precisa encontrar um presente para a filha. As luzes natalinas brilham como se nada tivesse acontecido. O maior evento capitalista do mundo é o despertar de uma falsa imagem caridosa, afetuosa e alegre. O que interessa a Stanley Kubrick é mostrar o que está por trás, por mais doloroso que seja.

De Olhos Bem Fechados está disponível hoje, na HBO Max.

2. GREMLINS (1984, de Joe Dante)

Indicação de Betina Machado

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Partindo de uma história simples – Billy (Zach Galligan) ganha uma criatura adorável de presente de Natal e para garantir seu bem estar deve seguir 3 regras simples que serão inadvertidamente quebradas com o caos se instalando na cidade – Gremlins prova que não é necessário mais do que isso para se contar uma boa história. 

Gremlins para mim é nostalgia, é relembrar de chegar da escola, almoçar e assistir a Sessão da Tarde na TV – todos com mais de 30 anos devem se identificar. É sinônimo de uma época em que a maior preocupação era brincar na rua, criando brincadeiras nas quais muitas vezes reinava um certo espírito anárquico, onde tudo vale. Este espírito anárquico permeia Gremlins, que ao se utilizar de uma violência cartunesca, remetendo aos desenhos do Looney Tunes, e de diversas referências a filmes clássicos, faz uma ácida crítica ao consumismo e ao estilo de vida do estadunidense médio suburbano. De sua maneira, também nos lembra de que, para muitas pessoas, o Natal não é sinônimo de felicidade. O uso de bonecos animatrônicos associados a efeitos práticos, faz com que mesmo depois de tantos anos o filme não pareça tão datado e, ouso dizer, ainda tem efeitos visuais melhores do que muitos da safra recente. Já perdi a conta de quantas vezes o assisti ao longo da minha vida, mas este é um daqueles clássicos dos anos 80 que nunca me cansarei de revisitar.

Gremlins está disponível no catálogo HBO Max.

3. SIMPLESMENTE AMOR (2003, de Richard Curtis)

Indicação de Natália Bocanera

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Leve sem deixar de ter suas camadas reflexivas. Discretamente bem humorado, como permite o cinema britânico. Ao cinéfilo que busca acalentar o coração nessa data comemorativa, Simplesmente Amor, de Richard Curtis, dá o direito de derramar algumas lágrimas e enxergar o que há de mais simples: o amor em meio aos problemas, aos desafetos e às imperfeições humanas. 

Com um elenco composto pela elite britânica de atuação (Emma Thompson, Alan Rickman, Hugh Grant, Colin Firth, Liam Neeson, Keira Knightley, Bill Nighy, Laura Linney, Chiwetel Ejiofor, sem esgotar a lista, que ainda conta com Rodrigo Santoro) consegue unir núcleos narrativos diversos através do Natal de forma competente e elegante, sem se perder em meio à tantos personagens. O Natal de Simplesmente Amor passa muito longe da perfeição. Richard Curtis nos entrega personagens que vão desde um rockstar em decadência (interpretado por Bill Nighy) que lança um (péssimo) hit natalino apenas para vender, à Sarah (Laura Linney), que apaixonada por seu colega de trabalho Karl (Rodrigo Santoro), abre mão de sua vida amorosa para se dedicar ao irmão com deficiência intelectual. Até o Natal do primeiro-ministro britânico recém empossado (Hugh Grant) dançante ao som de Jump (For my Love), das The Pointer Sisters nos deleita.

A trilha sonora é parte importante da narrativa. A animada canção Bye Bye Baby, de The Magic Time Travelers, transita do último adeus à recém falecida esposa do personagem de Liam Neeson à oitiva despretensiosa do rádio de outro personagem. Simplesmente Amor nos rememora que esse sentimento que recebe tratamento tão trivial e que tem tantas formas, é capaz tanto de tornar possível atravessar as cruezas da vida como de causar sofrimento. É bonita a forma como o filme se inicia e se encerra em aeroportos. Ali, nos encontros e despedidas, que o amor grita, por mais significativos que sejam as desavenças e os problemas.

Simplesmente Amor está disponível, hoje, para aluguel na Apple TV+.

4. KLAUS (2019, de Sérgio Pablos)

Indicação de Rodrigo Badaró

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Há filmes de Natal dos mais diversos tipos – e essa lista é um ótimo exemplo disso. Em regra, esses filmes costumam simbolizar o Natal como um período de alegria, esperança, (re)nascimento. É perfeitamente possível –  e até necessário! –  questionar as bases político-sociais que dão sustentação a essa construção, bem como a fabricação de uma lógica do consumo por trás dessa data. O filme indicado nessa mesma lista por Vinicius, o clássico De Olhos Bem Fechados, reflete criticamente sobre esses temas. 

Fugindo à regra de sempre pensar os filmes a partir de aspectos políticos, indico para vocês nesse Natal uma animação leve, visualmente belíssima, que conduz de forma muito habilidosa o espectador para um universo próprio que busca apresentar uma outra história para o surgimento do papai noel: Klaus.

No ano que vem vocês voltarão a ver na coluna desse crítico as análises habituais sobre os aspectos políticos e ideológicos que atravessam o cinema e, de resto, qualquer obra de arte ou produção humana. Mas para finalizar um ano tão importante da política brasileira, se permita mergulhar na história de Klaus e rir e chorar com a narrativa sobre o surgimento do bom velhinho na gélida cidade de Smeerensburg.

Klaus está disponível hoje na Netflix.

5. ESTRANHOS PRAZERES (1995, de Kathryn Bigelow)

Indicação de Mari Dertoni

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Este certamente não é um filme de Natal convencional, mas ele se passa exatamente entre  Natal e Ano Novo, o ano é 1999 e está prestes a acontecer a virada do milênio. Pouco antes dos primeiros 10 minutos de filme, um homem vestido de Papai Noel é derrubado na calçada em meio a pessoas bêbadas, carros de polícia, fumaça e correria nas ruas. Somos apresentados ao caos que se encontra a cidade de Los Angeles, em crise política e econômica, inflação, desemprego e um rumor de que o mundo vai acabar na virada do ano, com um clima hostil e nada natalino. 

Lenny (Ralph Fiennes) é um ex-policial que comercializa discos no mercado negro, neles contém vídeos de momentos vividos por outras pessoas, que são gravados e reproduzidos através de um software desenvolvido para o FBI. Quem reproduz tais vídeos, é capaz de ser diretamente inserido nas situações filmadas – como em uma realidade virtual –, experimentando sensações que foram vividas por terceiros. “Eu sou o Papai Noel do subconsciente”, diz Lenny em certo momento, tentando conquistar um cliente. Ele é apaixonado pela prostituta e cantora Faith (Juliette Lewis) que acaba em perigo, quando um assassino que se utiliza do dispositivo começa a matar mulheres. Lenny, com a ajuda de Mace (Angela Bassett) , tenta desvendar quem é o assassino e salvar Faith.

Com um ritmo intencionalmente frenético e uma câmera sempre em movimento –  muitas vezes em primeira pessoa –, acompanhando os personagens bem de perto, a diretora Kathryn Bigelow faz um trabalho incrível, passando sensações de adrenalina do início ao fim, todos estão sempre correndo, fugindo ou perseguindo alguém. Estranhos Prazeres é um filme noturno, onde se destaca um clima noir de luzes urbanas e a inevitável decoração de Natal em detalhes, além de muitos fogos e confetes de ano novo. Há críticas diretas ao racismo e a repressão policial nos Estados Unidos, com uma direção feminina e fortes personagens femininos também representados, como Mace, que além de exímia motorista, luta e dá surra em policiais. Estranhos Prazeres é um filme anárquico, cheio de perversões, acelerado e com uma fotografia original, mostrando um lado marginal e corrupto da cidade de L.A. através de, também, uma história de amor.

Estranhos Prazeres está disponível para aluguel no Prime Video.

6. O GRINCH (2000, de Ron Howard)

Indicação de Lenita Pinho

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Essa fábula conta com a atuação inspirada de Jim Carrey e a narração de Anthony Hopkins para trazer vida ao famoso livro infantil de Dr. Seuss, e contar a história do Grinch, o vilão de Quemlândia que odiava o Natal e planejava roubar as festividades da cidade.

A direção de arte também se destaca, ao criar um ambiente exagerado, colorido e fantástico não só para retratar o clima natalino de Quemlândia, mas também caprichar no ambiente sombrio do Grinch.

Ao trazer a discussão sobre o que é o verdadeiro espírito natalino, o filme ainda critica o consumismo desenfreado da época e a superficialidade que a data é capaz de apresentar.

Como pode ser? Chegou sem fitas! Chegou sem etiquetas! Chegou sem embalagens, caixas ou sacos! – Ele pensou e pensou, até que seu pensatório ficou dolorido. Então o Grinch pensou em algo que não pensara antes. – Talvez o Natal…- Ele pensou. – Não venha de uma loja. Talvez o Natal, quem sabe, signifique um pouco mais!

Passados 22 anos do lançamento dessa obra, ainda é possível admirar Jim Carrey no ápice de sua carreira na comédia e terminar com o confortável sentimento quentinho por dentro que a celebração de Natal merece.

Assista O Grinch na Netflix.

7. A PAIXÃO DE CRISTO (2004, de Mel Gibson)

Indicação de Eduardo Gouveia

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Ao se pensar sobre o Natal, não raro se pensa em toda atmosfera envolvida nesse período do ano: determinado clima na cidade, os presentes, Papai Noel, renas e duendes,  a ceia, as férias escolares.  Nesse cenário, sobretudo em famílias católicas, comumente também surge a pessoa que se preocupa em lembrar o que, de fato, comemora-se no Natal, ou melhor, o que a data deve significar. Acredito que nessa lista, eu serei essa pessoa e recomendarei ao leitor um drama religioso. 

Totalmente consciente que a indicação que trago foge, por completo, do que a maioria das pessoas pensa ao “procurar um filme de Natal”, acredito ser completamente irrazoável não trazer um filme sobre a história daquele que é o grande protagonista da festa de Natal: Jesus Cristo. E aqui, indico não um “filme qualquer”, mas sim, um que teve a clara intenção de reproduzir com crueza o seu martírio.

Dentre os filmes que tratam da vida de Jesus, A Paixão de Cristo é o de maior sucesso e o que causou maior polêmica. Lançado em 2004, tendo sido dirigido e roteirizado por Mel Gibson, o longa-metragem arrecadou mais de 600 milhões de dólares, nada mal para um filme produzido de forma independente. Tendo sido filmado todo em aramaico, latim e hebraico, tornou-se o filme em língua não inglesa de maior bilheteria na história dos Estados Unidos da América.

As polêmicas ficam por conta do choque causado pelas inúmeras cenas de grande violência, questão que provocou enorme frenesi à época e chamou atenção de público e críticos, que em boa parte questionavam a necessidade de tê-las no longa-metragem.

O filme, que é pautado nas últimas doze horas de Jesus Cristo, foi realizado tendo por base evangelhos como os de Lucas, Mateus e João, ainda que tenham sido realizadas algumas adaptações no roteiro. 

No que condiz às questões técnicas, chama atenção a impecável atuação de Jim Caviezel no papel principal, bem como o excepcional trabalho de maquiagem e figurino. 

O diretor Mel Gibson prepara o lançamento, no ano de 2024, de “The Passion of the Christ: Resurrection“, trazendo novamente Jim Caviezel no papel mais marcante de sua carreira.

A Paixão de Cristo pode ser vista hoje no Star Plus.

8. O ESTRANHO MUNDO DE JACK (1993, de Henry Selick)

Indicação de Daniel Oliveira

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Poderíamos estar aqui em uma lista de melhores filmes de Halloween, pois,  neste caso específico, temos abóboras, chapéus pontudos, fantasmas e lobisomens, traços marcantes dos filmes que figuram nessa época do ano. O que conduz o roteiro desse clássico da animação stop motion é justamente a fuga desse cenário sombrio para o lúdico do branco e vermelho que representa o bom velhinho.

Nascido da mente criativa de Tim Burton, que escreveu o poema original e dirigido por Henry Sellick (mesmo criador de Coraline) aqui acompanhamos a Jornada de Jack Esqueleto, vulgo rei das abóboras e senhor dos sustos da Cidade do Halloween. Cansado da mesmice do seu trabalho, ao se aventurar na floresta para fugir das expectativas sobre ele para a condução de mais um Halloween Jack encontra uma clareira com portais para mundos desconhecidos, e um deles reserva uma surpresa muito bem vinda.

Um desses portais leva Jack para um lugar cercado de neve, de cores e de alegria, a cidade do Natal. Essa experiência lhe oferece  a resposta para seu tédio . Jack agora irá cuidar do Natal, e a partir daí poderemos acompanhar a campanha desastrosa do regente do Halloween como Papai Cruel.

Além do trabalho impecável de animação , temos aqui uma trilha sonora fantástica composta Danny Elfman, líder da banda Oingo Boingo, que inclusive dubla Jack durante as músicas.

O Estranho Mundo de Jack, apesar de ser uma obra infantil, levanta questões filosóficas e existenciais importantes, provando que nem sempre pessoas com fama e poder se sentem felizes e completas. Às vezes é preciso o brilho do desconhecido, mesmo que esse nos cegue e nos leve a um desastre para entendermos quem realmente somos. São essas buscas e desencontros que tornam O Estranho Mundo de Jack um filme atemporal e inesquecível.

O Estranho Mundo de Jack está disponível hoje, na Disney Plus.

INDICAÇÃO EXTRA | menção honrosa:

9. FANNY & ALEXANDER – (1982, de Ingmar Bergman)

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Para finalizar, uma indicação extra. Considerada a obra máxima de Ingmar Bergman, retrato de todo seu cinema e inspirado em sua própria infância, Fanny & Alexander trabalha com o imaginativo infantil de muitas formas, mas, principalmente, como meio de fuga de uma realidade dura. Através da celebração do Natal na Suécia invernal, Bergman nos introduz aos Ekdahls, uma numerosa família, ambientando a festividade à imagem de um típico e perfeito globo natalino: uma grande casa lindamente decorada, aconchegante, calorosa, uma ceia farta, pessoas felizes, ao passo que externamente a neve cai, calma e serena. Essa perfeita imagem natalina é desconstruída por Bergman no decorrer do filme, enquanto pecados são revelados, situações difíceis são superadas, sem que muitos julgamentos se imponham aos personagens, que são notoriamente afetivos ao diretor.

Fanny & Alexander, irmãos que dão título ao filme, percorrem os rumos árduos tomados por sua família de forma lúdica, e numa manifestação do amor e da conexão de Bergman com o cinema, brinca com a verdade e a mentira na mente infantil. Inicialmente filmado para a TV Sueca e adaptado para o cinema, foi vencedor de 04 Oscars: melhor filme estrangeiro, melhor fotografia, melhor figurino e melhor direção de arte.

Authors

  • Jornalista carioca, estudou cinema na Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, certificada em roteiro pelo Instituto de Cinema de São Paulo. Ama cinema de horror e os grandes clássicos.

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  • Advogada, cofundadora, editora e crítica de cinema no Coletivo Crítico.

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  • Fragmentos dos filmes que vejo remendados pela Filosofia.

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  • O representante do Pará no Coletivo Crítico que, entre o doutorado em Direito e os jogos do Paysandu, não dispensa uma pipoca para comer, uma Coca Cola gelada para beber e um bom filme para ver.

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  • Apaixonada por todas as formas de contar história. A vida me trouxe a São Paulo pra morar entre gatos e livros. Advogada por profissão, cinéfila de coração e eterna aprendiz

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  • Rodrigo Badaró

    Natural de Belo Horizonte, é Cientista Político (UFMG), cruzeirense, músico e aspirante a crítico de cinema. A maior especialidade está em enxergar a política em todos os lugares, especialmente naqueles que mais ama: o futebol, a música e o cinema.

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