Mussum, O Filmis | 2023
Antônio Carlos Bernardes é quase uma unanimidade quando se trata de artista popular brasileiro: conhecido como Mussum, deixou sua marca tanto no samba, compondo o grupo Originais do Samba, bem como emprestou seu inigualável timing para a trupe dos Trapalhões, programa televisivo de sucesso absoluto que alegrou gerações de espectadores, que posteriormente se transformou em mais de quarenta filmes que levaram verdadeiras multidões aos cinemas do país.
O filme, baseado no livro “Mussum – Uma História de Humor e Samba” de autoria de Juliano Barreto, demarca a estreia de Silvio Guindane na direção de longas-metragens, contudo, não pode-se dizer que o cineasta é um novato: sua destacada carreira como ator já o fez ser vencedor de um Kikito no Festival de Cinema de Gramado, com o filme Como Nascem os Anjos.
É bastante clara a intenção de Guindane já nos primeiros minutos da obra: Mussum, O Filmis visa ser um “comfort movie”, um filme que irá afagar o coração de todos os admiradores de Mussum, que definitivamente não são poucos em nosso país. Assim, em termos de linguagem cinematográfica, não há qualquer tipo de inovação, pelo contrário, o longa-metragem faz opções bastante seguras e convencionais para contar a história do seu personagem principal.
Na construção da trama, ganha destaque o dilema o qual Mussum teve que passar durante sua vida profissional. Ainda que sua atuação como um dos Trapalhões tenha adquirido maior destaque, o início de sua vida artística se dá como sambista, mais precisamente como membro do grupo “Originais do Samba” e da escola de samba Mangueira.
Assim, é muito interessante perceber que sua entrada na televisão se dá sem planejamento ou até mesmo uma vontade expressa do artista: uma série de acontecimentos, aliados, logicamente, ao seu sublime senso de humor, o fazem entrar neste território que não lhe era familiar; e na medida em que ganha destaque na televisão, fica cada vez mais complicado conciliar as funções de músico e ator, o que gera uma série de embaraços com seus colegas de grupo, acarretando em sua demissão da banda. Aqui, Guindane é extremamente competente em filmar as dúvidas de Mussum em relação a sua carreira: o sucesso avassalador dos Trapalhões e o fato de se ver como músico e não como ator.
O elenco afinado contribui muito para o sucesso do filme: parece não haver escolha melhor para o papel do protagonista do que Ailton Graça, cuja semelhança física com Mussum salta aos olhos; é digna de destaque a atuação de Iuri Marçal que o interpreta na adolescência. Também são merecedoras de louvores as atuações de Cacau Protásio e Neusa Borges que interpretam a Sra. Malvina, mãe de Mussum, em diferentes fases da vida e que, apesar de trazerem alguma dose de humor nas cenas, também trazem um peso dramático que se adequa perfeitamente ao tom do longa-metragem e o engrandecem.
O filme não entra em aspectos mais pesados (ou polêmicos) da vida do protagonista. Todavia, ao mesmo tempo que não os enfrenta, não os ignora, sendo realizadas abordagens perfunctórias acerca do seu problema com o alcoolismo e as brigas internas entre Os Trapalhões.
Assim, Mussum, O Filmis consegue ter êxito no que se propõe: um filme feito para atingir e agradar uma grande faixa do público brasileiro. Silvio Guindane parte de escolhas convencionais que, sem abordar frontalmente os aspectos mais espinhosos da trajetória do protagonista, e contando com um elenco que faz seu papel com maestria (no que destaco Ailton Graça, Cacau Protásio e Iuri Marçal), consegue mesclar de forma habilidosa a comédia e o drama ao retratar a vida deste tão icônico e extraordinário artista nacional.
Mussum, O Filmis foi assistido no 51º Festival de Cinema de Gramado, e será exibido na 47ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo.