Los Colonos | 2023

Los Colonos | 2023

Hollywood fez tornar mundialmente conhecida, ainda que pelo ponto de vista exclusivo do colonizador e, por muito tempo, da vilanização do colonizado, a história da invasão das terras indígenas estadunidenses pelos ingleses e sua expansão. Los Colonos não traz exatamente a história da colonização chilena, mas faz um recorte de acontecimentos mais recentes sobre o contínuo massacre dos povos indígenas, donos das terras almejadas pelos europeus.

Dirigido por Felipe Gálvez Haberle, Los Colonos venceu o Prêmio da Crítica da seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2023, e foi indicado pelo Chile como representante no Oscar 2024. Situado em 1901 nas terras patagônicas, um grupo de três homens é enviado pelo fazendeiro espanhol José Menéndez, sob o pretexto da abertura de um trajeto que lhe dê acesso ao oceano Atlântico. O grupo é comandado pelo britânico Alexander MacLennan (Mark Stanley), e composto por Bill (Benjamin Westfall), um mercenário americano de origem mexicana, e por Segundo (Camilo Arancibia), um rapaz mestiço sem qualquer patente militar, escolhido por sua habilidade com armas.

Nessa espécie de western, que passa em tempo coincidente, inclusive, com o surgimento do gênero, o caminhar desse grupo com missão expansiva os tira do ambiente já hostil das terras comandadas por um senhor violento, para lançá-los na infinita Terra do Fogo, extremidade sul da América Latina, predominando a desconfiança de três homens muito diferentes entre si e que pouco (ou nada) se conhecem, aliado à violência que encontram e praticam por todos os lados. A missão de expandir territórios mostra-se, sob o comando de MacLennan, uma missão de extermínio de um povo.

Los Colonos é gigante quando mostra as belezas naturais daquele espaço e quando constrói planos tipicamente western. O oeste americano dá lugar às terras belíssimas da Patagônia Chilena. O diretor trabalha com excelência a construção dessa atmosfera que se altera entre a iminência do horror e da morte e a calmaria insegura daquelas terras imensas. O caos político e social diante das diferenças sempre acentuadas entre as muitas etnias que ali habitam (chilenos, indígenas, argentinos, espanhóis, ingleses, americanos) tornam qualquer possibilidade conciliadora uma falácia.

Felipe Gálvez Haberle trabalha uma violência silenciosa e ao mesmo tempo evidente nos acontecimentos, sons e expressões. Há uma frieza permanente com uma brutalidade raramente explícita. Quando o ápice desse estado de morte parece surgir, o diretor muda Los Colonos e assume um tom mais solene e uma narrativa política, nos levando aos fatos pela passagem do tempo e pela busca burocrática de uma certa reparação aparente e unificação.

A observação do diretor nunca assume exatamente o ponto de vista do colonizado. A ausência de palavras parte muito desses personagens, circundados pela opressão e pelo risco de vida, mas donos das mais fortes expressões, feições onde o diretor se alonga. Não possui qualquer intenção de dar, exatamente, voz ao povo assassinado, mas contar à distância esse histórico genocida, que para o colonizador parece ser facilmente resolvido com algumas ações humanitárias e posições políticas.

Essa opção pelo distanciamento acaba por tornar Los Colonos morno, contrariando o que promete ser. Parece sempre querer entregar algo que nunca chega. É bastante pertinente e relevante do ponto de vista histórico, mas não soa como um grande projeto crítico do processo genocida do colonizador. De forma alguma o defende, bem longe disso. Mas sua grandeza soa vazia quando resolve permanecer no silêncio e na sugestão.


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