Hot Club de Montevideo | 28º Festival É Tudo Verdade
“Cuando el jazz es bueno no importa si es antiguo o moderno”
Retratos, recortes de imagens e muitos resgates, é o que encontramos de cara em Hot Club de Montevideo, documentário dirigido pelo uruguaio Maximiliano Contenti – que já dirigiu três longas que permeiam entre o terror e a comédia, mas estreando seu longa documentário – e que faz parte da Mostra Foco Latino-Americano no 28º Festival É Tudo Verdade. O objetivo de Contenti é traçar a trajetória do Hot Club de Montevideo, a instituição de jazz mais antiga da América Latina, que sobrevive até hoje. A direção faz isso através de depoimentos e um belo esforço de memória das figuras mais antigas ainda vivas, que experienciaram os primórdios do Hot Club. Entre elas músicos, membros, ex-membros, amigos e frequentadores do clube de jazz.
Fundado em 1950 pelo pianista Paco Mañosa, junto de seu irmão e alguns amigos que tocavam juntos, o clube de jazz Hot Club na capital uruguaia de Montevideo foi o primeiro clube dedicado especialmente ao jazz da América Latina e durante décadas foi grande referência do estilo. Através dos depoimentos percebemos como o clube formava e capacitava músicos. Os jovens chegavam por lá “crus” e, principalmente, graças a mentoria de Mañosa, saíam do clube completamente modificados pela música, pela improvisação nas jam sessions que aconteciam e muitas vezes também, somente por observarem os músicos mais experientes tocarem. Mañosa também fazia a revista do clube de jazz, que saia periodicamente para os membros apoiadores. Ele faleceu em 2003, logo, aparece no documentário através de relatos e fotografias.
Os depoimentos de bateristas, trompetistas, contrabaixistas e até de pessoas que eram apenas apreciadoras, são completamente apaixonados pelo que estão falando, como se todos os frequentadores e membros do Hot Club fossem verdadeiramente apaixonados por ele e pela figura controversa de Mañosa, e de fato eram. A narrativa é montada juntamente com a apresentação de um show em comemoração aos 70 anos do Hot Club, cenas que abrem e fecham o documentário, o coroando como uma homenagem a sua resistência.
As imagens são intimistas, muitas vezes com câmera na mão nas entrevistas em casa, nos fazendo mergulhar um pouco no universo musical de cada personagem em meio a seus instrumentos, vinis, fotografias, cartões postais e histórias. Diversos planos detalhes ajudam a construir um mosaico de lembranças afetivas de um lugar que existe desde a década de 50 até os dias de hoje, porém completamente repaginado.
É mostrado como o clube resistiu ao longo do tempo, enfrentando questões com o governo e a falta de financiamento, passando por crises financeiras, até chegar na pandemia de COVID-19 e passar por ela. O clube que era um universo subterrâneo, literalmente underground, pois se descia uma escadinha para chegar lá, ganhou depois novos ares, espaços e com isso outras frequências, para resistir e sobreviver ao tempo.
Acompanhamos o apogeu e o declínio do Hot Club Montevideo de perto, com muitos cortes e pausas para momentos musicais, com imagens de palco, sem medo de se demorar em takes com os músicos em ação. Foi a forma que Contenti escolheu para nos fazer adentrar mais no clima desses fanáticos por jazz, nos ajudando a conhecer o clube através da perspectiva apaixonada de cada um.
Hot Club Montevideo pode ser assistido em São Paulo no dia 13 de abril às 14h no Sesc 24 de Maio e no CCSP Lima Barreto às 19h do dia 19 de abril e no Rio no NET Rio dia 20, às 19h.
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