Sting Like a Bee | 2023

Sting Like a Bee | 2023

O documentário longa-metragem de estreia do diretor Leone, Sting Like a Bee (“ferroar como uma abelha”, em tradução literal), faz referência e presta homenagem a um peculiar veículo do final dos anos 40: o Piaggio Ape. Uma mistura de triciclo com caminhonete, o Ape servia principalmente para o transporte camponês, emitindo um som parecido com o de uma abelha, por isso o nome (“ape” significa abelha em italiano). Agora, essa estranha motocicleta foi ressignificada pelos jovens de uma pequena cidade italiana como instrumento de exibição e aventura.

A premissa do filme é um tanto curiosa e nos desperta interesse na relação entre a tradição desse veículo e seu novo sentido na atualidade. Leone acompanha um grupo de adolescentes que ostenta seus Apes pela cidade, criando versões “tunadas” e elegantes. Alguns deles têm um apego tão forte por seu triciclo que acabam investindo milhares de euros, transformando-os em prioridade em suas vidas. O que parece mover o cineasta são justamente os interesses dessa juventude por algo que parece tão superficial que precisa de uma análise mais profunda para entendermos.

Mas, Sting Like a Bee não vai até a profundidade. A obra assume um caráter experimental, com o cineasta recorrendo cada vez menos a essa curiosidade que levantou nos primeiros minutos de projeção, para então se questionar sobre sexualidade dos adolescentes e começar a mesclar o documentário com ficção. Sua interferência questionando e manipulando os jovens nos transporta para um caminho cada vez mais abstrato, como se relegasse a essa geração a ignorância e o fácil controle de seus atos.

Não há uma crítica tecida a contemporaneidade, mas um desdém a esses personagens que passam a ser usados de maneira forçada para evidenciar sua superficialidade, entre a exibição sobre os Apes, as dancinhas do TikTok, a relação afetiva entre eles e a ignorância, por exemplo, do que é a AIDS (sim, Leone questiona os adolescentes por diversas vezes sobre a doença). Cada intervenção do diretor com seus personagens torna o filme mais constrangedor, chegando a perguntar-lhes sobre insistentemente sobre sexo em termos até explícitos.

Tudo ainda piora quando nasce um filme dentro do documentário, algo como um teste de imagem que nos chega a colocar em dúvida o real propósito de Sting Like a Bee. Seria um teste de atores? Leone sempre convida seus personagens a encenarem algumas histórias contadas como situações reais por outros entrevistados. Por mais que a encenação seja ruim, ele parece realmente querer explorar essa deficiência de seus atores.

 O Piaggio Ape se torna cada vez menos interessante nesse contexto, perdendo espaço para questões que não são levadas para nenhum lugar, a não ser para a satisfação dos fetiches da direção.

Sting Like a Bee foi assistido na cobertura do CPX:DOX 2024, Festival Internacional de Documentários de Copenhagen.

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