Thelma & Louise | 1991

Thelma & Louise | 1991

Por Alana Karolina Gois.

Um road movie sobre amizade, redescobertas e a busca pela liberdade

“Me sinto acordada… bem acordada…Também se sente assim, como se esperasse algo da vida?”

Thelma

Pensar em road movie é, inevitavelmente, pensar na jornada. Nas histórias contadas a partir desse formato, o que acontece entre a saída e a chegada importa tanto ou mais do que o próprio desfecho. Além de embarcar junto na viagem e poder apreciar as paisagens naturais que embelezam as estradas, o espectador também acompanha as aventuras, desafios e transformações dos protagonistas. Diante disso, não haveria subgênero melhor para retratar os dilemas em Thelma & Louise (1991), filme dirigido por Ridley Scott e com roteiro assinado por Callie Khouri.

Tudo que Thelma (Geena Davis) e Louise (Susan Sarandon) queriam era dar uma pausa em suas rotinas aprisionantes e cair na estrada para uma viagem divertida entre amigas. Logo de início, em uma rápida, mas precisa apresentação do cotidiano de ambas, o filme já evidencia, por meio de diálogos situacionais, o quão frustrante é a vida das duas. Assim, “pegar a estrada” transformou-se no escape perfeito, ainda que temporário.

O conflito rapidamente se estabelece e é nesse instante que tudo muda. Mas, mesmo quando os planos se frustram e, de repente, o que era pra ser diversão vira caos e fuga (de mulheres comuns à criminosas “perigosas” procuradas pela polícia), ao longo do caminho, elas se veem livres de padrões, convenções e relacionamentos fracassados. Tais sensações começam a dar um certo significado às suas vidas, tornando a viagem rumo ao desconhecido em algo tão libertador e necessário do que qualquer estabilidade antes vivida.

Toda a trama ganha ainda mais força graças à excelente dinâmica entre as duas personagens (mérito das ótimas atuações de Davis e Sarandon). Embora diferentes na personalidade, há algo que as une além da amizade: o desejo de libertar-se de suas realidades e reencontrar-se consigo mesmas. Louise, mais madura e calejada com os traumas da vida, é quem equilibra a relação. A narrativa opta por não revelar o segredo que ela guarda e mantém afastado até mesmo de sua amiga Thelma, ressaltando a angústia que permeia seu arco dramático. Uma coisa é certa: seu passado foi violento, sofrido e ainda não superado.

 Sempre paciente, Louise compreende Thelma, que só almejava desbravar o mundo. Casou-se jovem, aos 18 anos, e, desde então, vive em um relacionamento que suga toda a sua alegria e espontaneidade. Os apuros enfrentados durante a viagem, frutos de uma sociedade que ainda insiste em rotular mulheres como objetos, não a fazem abrir mão de sua vontade de viver e aventurar-se.

O diretor aproveita bem os diálogos para explicitar o que a sociedade pensa a respeito das mulheres. Seja com um toque de ironia, seja de maneira despretensiosa, a mensagem está ali, o tempo todo martelando, marcada especialmente pelas conversas entre as protagonistas. O destaque também vai para a ótima direção de fotografia de Adrian Biddle que convida o espectador a viajar pelas belezas da paisagem desértica e montanhosa dos EUA, enquanto a excelente trilha sonora do Hans Zimmer é o elemento certeiro para complementar toda a experiência fílmica . A trama já inicia com a música Thunderbird, logo nos créditos iniciais, causando um misto de melancolia e apreensão, como se anunciasse o que estava por vir. Esse “presságio musical” vem acompanhado pelo uso do preto e branco que, ao transicionar lentamente para o colorido, funciona como o abrir das cortinas do espetáculo.

 A mesma canção é utilizada também na cena final para representar o misto de sensações vividas pelas protagonistas, que vão desde o medo, passando pela adrenalina, melancolia, paz, até, finalmente, alcançarem a tão desejada liberdade.

Thelma & Louise é um retrato da libertação feminina de uma sociedade patriarcal que transformou a fuga na única opção de saída de seus aprisionamentos, relacionamentos falidos e do medo de serem culpadas quando eram vítimas de um contexto cultural machista, afinal, como disse Louise: “Não acreditariam na gente.”

É nesse escape que elas redescobrem-se e experimentam o que é ser livre, ainda que a liberdade tenha custado um alto preço. Mas, já estavam pagando caro há muito tempo. A dupla já não tinha nada a perder, a não ser a liberdade que haviam conquistado. Para não perdê-la, saltaram em direção ao vazio que naquele instante parecia ser muito melhor do que retornar à prisão de suas vidas.

Nota:

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