Hora do Massacre | 2024

Hora do Massacre | 2024

A animalidade humana aflorada pela frustração capitalista

Carregado por um discurso ambientalista, Hora do Massacre, novo longa de terror realizado pelo coletivo de diretores canadenses RKSS – Roadkill Superstars, que é composto por Yoann-Karl Whissell, François Simard e Anouk Whissell, trabalha com um elenco jovem e faz um slasher estilo home invasion bem sangrento. O coletivo, que já trabalhou anteriormente em filmes como “Verão de 84” e “Turbo Kid”, mantém sua estética bastante estilizada e mostra uma boa trajetória até aqui.

Um grupo de jovens ativistas ambientais resolve invadir uma loja de móveis para protestar contra o desmatamento e a exploração das florestas. São seis colegas que mostram pouco entrosamento entre si, mas que compartilham o desejo rebelde de vandalizar a mega store, fazendo registros em seus celulares. Desde o princípio, Hora do Massacre sugere um diálogo entre a animalidade humana e suas consequências, seja na questão ambiental, ou sobre a violência do homem com outros homens. 

Cada integrante do grupo adota uma máscara que simula um animal. O filme assume seu tom de diálogo jovem, começando pelo estilo das máscaras coloridas  feitas de papel, que ilustram as personalidades dos ativistas. Por vezes, eles estão pichando as paredes com tinta neon, outras, fazendo guerra de almôndegas e manchando os espaços de sangue. Há uma crítica a certo ativismo vazio, daqueles jovens que só querem fazer parte de uma trend e serem relevantes na internet, mas que tem pouca conscientização do que realmente está acontecendo. 

Enquanto os amigos pensam estar dominando o local, se divertindo em uma brincadeira com armas de paintball, são surpreendidos por uma dupla de seguranças noturnos, composta por um brutamontes viciado em caça primitiva e um veterano que sofre de alcoolismo. Então as dicotomias entre o homem e o animal voltam, personificadas nesse vigilante que faz da caça uma obsessão, transformando a ronda noturna em um show de horrores, sangrento e impiedoso. Assumindo cada vez mais o tom slasher, o longa consegue criar situações bastante sanguinárias a partir de armadilhas montadas entre as prateleiras de produtos e móveis. 

O longa é inteiramente filmado em um mesmo local. Não há momentos fora do ambiente da loja, estilo Tok&Stok, que se transforma em um lugar sombrio ao apagar das luzes, como se as seis pessoas ali fossem as presas, animais indefesos querendo sobreviver a um caçador. O store invasion se torna um filme de caçada, literalmente, pois toda a dinâmica do filme se volta para o instinto de sobrevivência (nem sempre eficiente), dos jovens ativistas. 

Hora do Massacre traz um discurso ambiental fraco, que acaba sendo usado somente como uma desculpa para que o filme aconteça, resolvendo abraçar o gênero e sendo direto nas intenções de demonstrar a insanidade da violência através de um personagem que transborda frustração. O segurança, explorado em seu emprego, que não acha espaço para seus hobbies e que sente seu cargo ameaçado por um bando de jovens arruaceiros, é a personificação da realidade do trabalhador médio, tentando sobreviver. O longa, além de recheado de cenas divertidas para os fãs de terror, faz refletir um pouco sobre duas perspectivas: a dos funcionários que só gostariam de cumprir suas funções e manter seus empregos, desapegados de ideais; e a dos jovens, que pretendem compartilhar sua ação como exemplo e afronta às consequências de um sistema capitalista irresponsável. Interessante observar que, no filme, sem desmerecer os motivos de cada lado, mostra que todos acabam errando em suas abordagens.

Nota

O filme estreia dia 18/07 nos cinemas brasileiros, distribuído pela Imagem Filmes

Author

  • Mari Dertoni

    Jornalista carioca, estudou cinema na Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, certificada em roteiro pelo Instituto de Cinema de São Paulo. Ama cinema de horror e os grandes clássicos.

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