Langue Étrangère | 2024

Langue Étrangère | 2024

Fanny (Lilith Grasmug) é uma adolescente de 17 anos filha de imigrantes na França que vai para a Alemanha para um intercâmbio cultural. Lá, ela fica na casa de Lena (Josefa Heinsius), uma jovem, ávida por se engajar no ativismo político. Fanny,  para impressionar Lena, começa a criar uma realidade que não é a sua. As duas logo se conectam fortemente em afinidade e partilha de ideais políticos.

A saudade de casa confrontada pelo medo de estar em casa. A adolescência cheia de receios e incertezas, mas que pode se mostrar mais sensata que a vida adulta. Claire Burger consegue contrapor a vida pulsante dessas jovens e a amargura dos adultos ao seu redor, num filme que muito embora carregue uma tensão de conflitos e (muitos) acontecimentos, soa esperançoso ao colocar a adolescência como detentora da força necessária para a construção de um mundo um pouco melhor. 

A diretora pode ter cometido a falha de, sim, falar sobre muitos assuntos em pouco espaço. Entretanto, trabalha com tanta delicadeza ao redor das meninas que consegue, de certa forma, equiparar essa afobação temática com o próprio desespero adolescente de querer saber lidar com tudo, principalmente quando considerarmos que a vida dessas personagens em específico já nasceu inserida nas redes sociais, com o fantasma do fear of missing out.

Fanny é depressiva e sofre bullying, já tendo perpassado pela tentativa de suicídio. Quando conhece Lena, vigorosa e intelectualmente interessada no engajamento político, não há conexão entre elas. Lena repudia a presença de Fanny ali, foge de sua presença. Usa-se das diferenças linguísticas para reforçar esse distanciamento. Não que desconheçam a língua uma da outra, mas simplesmente não quererem fazer o esforço de falar.

A política entra aqui como definidora dos rumos das relações entre as duas, e de ambas com suas famílias. Vê-se que a relação de Lena com sua mãe, personagem de Nina Hoss, coloca a adolescente numa posição de tamanha maturidade que o conflito é inevitável. O crescimento da extrema direita e o racismo também ganham espaço nos almoços de família. O nazismo vira acusação contra uma pessoa alemã de forma generalizada. A imigração é fator que vai fazer Fanny sofrer um pouco mais em seus dilemas escolares. É muito, de fato. “Tenho medo do fascismo, de Putin, das mudanças climáticas”, é uma fala de Lena que bem resume esse furacão de pensamentos que se transfere para o filme.

Burger nos concede respiro no tratamento e na construção da relação entre as garotas, trabalhada com muita parcimônia. As cenas de intimidade inocente de ambas na cama lembrou muita coisa de Close, de Lukas Dhont, com menor peso em Langue Étrangére. A diretora se interessa por toques, olhares e sonhos. A ânsia de Lena pelo ativismo político de esquerda fará Fanny construir uma narrativa apenas para cativá-la um pouco mais, mas a luta se torna natural para elas. Enquanto adultos perdem progressivamente a esperança de qualquer mudança relevante em nosso mundo, valorizar a avidez e a boa vontade adolescente mostra-se cada vez mais necessário. 

Direção: Claire Burger
Com: Lilith Grasmug, Josefa Heinsius, Nina Hoss, Chiara Mastroianni
País: França, Alemanha, Bélgica
Assistido no dia 19/02, no Berlinale Palast
Mostra: Competitiva

Nota:

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