Primeiras Impressões | 74ª Berlinale
É com imensa alegria que, pela primeira vez, o Coletivo Crítico faz a cobertura de um festival internacional. Fomos selecionados para fazer parte da 74º Festival Internacional de Cinema de Berlim, a Berlinale, um dos maiores e mais relevantes festivais de cinema do mundo, e quem nos representou foi nossa crítica e fundadora Natália Bocanera. A importância desse passo, em nossos quase três anos de existência, é indizível, e muito graças ao financiamento coletivo, que nos possibilitou realizar essa conquista, e a todas as pessoas que acompanham e acreditam no nosso trabalho.
A 74ª Berlinale, que aconteceu presencialmente de 15 a 25 de fevereiro de 2024, foi particularmente especial. Pela primeira vez, uma mulher negra presidiu o Júri Internacional: a atriz quênio-mexicana Lupita Nyong’o. E ainda, o Urso de Ouro foi concedido também a um filme dirigido por uma mulher negra, Dahomey, de Mati Diop, que é franco-senegalesa.
Aqui você encontra breves comentários sobre todos os filmes vistos no 74º Berlinale. Na aba “festivais” de nosso site, você encontra as críticas realizadas durante o festival.
A cobertura está sendo realizada, ainda, em nosso Instagram, Twitter, Letterboxd. E ainda não acabou, fique de olho!
CUCKOO
Gretchen (Hunter Schafer) é uma jovem que viaja com o pai, sua madrasta (Jessica Henwick) e meia irmã que ela recusa chamar de sua, para um resort nos alpes alemães. No local, ela começa a ouvir sons estranhos e apavorantes seguidos de acontecimentos tão estranhos quanto, quando percebe-se vítima de uma praga e sendo perseguida por uma mulher.
Esse terror, que assume o absurdo e o bizarro de forma bastante explícita e caricatural, oscila entre não levar-se a sério, onde ele mais brilha, e tentar cativar pela dor da protagonista, uma seriedade que não parece encaixar. Além de muitos sustos, rendeu boas risadas em seus momentos mais excêntricos no 74º Berlinale.
Direção: Tilman Singer
Com: Hunter Schafer, Dan Stevens, Jessica Henwick
País: Alemanha, EUA
Assistido no dia 15/02, no Cinemaxx.
Mostra: Special Gala
LA COCINA
O restaurante The Grill, na Times Square em Nova Iorque, por trás de sua fachada pomposa e turística, mantém uma cozinha com trabalhadores imigrantes ilegais. Em meio à rotina frenética, dá-se falta de dinheiro no caixa, inicia-se uma investigação interna sobre um possível roubo, a jovem Estela procura o cozinheiro Pedro (Raúl Briones Carmona) para um emprego, e este mantém uma relação amorosa com Julia (Rooney Mara), que está grávida e pretende fazer um aborto.
Alonso Ruizpalacios trabalha o frenesi das grandes cozinhas e a exploração do trabalho imigrante pelos empresários estadunidenses num drama que escalona em proporções caóticas. Sem se perder em tantos personagens, consegue nos fazer criar laços e repulsa por cada um deles, lidando com personalidades que são igualmente duvidosas e humanas. Alcança o absurdo para atingir em cheio o que quer: abordar a desumanidade do tratamento estadunidense aos imigrantes ilegais, diariamente iludidos pela estrutura.
Direção: Alonso Ruizpalacios
Com: Raúl Briones Carmona, Rooney Mara, Anna Diaz
País: México, EUA
Assistido no dia 15/02, no Cinemaxx.
Mostra: Competitiva
Leia a crítica completa aqui.
MY FAVOURITE CAKE
Mahin (Lily Farhadpour) é uma mulher de 70 anos, viúva, que tem filhos residindo no estrangeiro e que mora sozinha. Cansada e triste com sua solidão e a ausência de suas amigas, resolve procurar um parceiro para compartilhar sua vida.
Um drama adorável e também obscuro que reflete a solidão na velhice e as angústias carregadas pela proximidade da morte. A diretora trabalha belamente o romance entre pessoas idosas e as mudanças de seus corpos, exaltando belezas que o idadismo nos impede de ver. Consegue pincelar, ainda, o aprisionamento das mulheres pela polícia moral do Irã e o constante temor de sua repressão.
Direção: Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha
Com: Lily Farhadpour, Esmail Mehrabi
País: Irã, França, Alemanha, Suécia
Assistido no dia 16/02, no Berlinale Palast.
Mostra: Competitiva
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A DIFFERENT MAN
Edward (Sebastian Stan) é um ator infeliz e recluso que possui uma deformidade facial, que o faz buscar uma cirurgia de transformação, pretendendo viver uma nova personalidade e vida com sua aparência modificada. Porém, a mudança não traz a felicidade que ele esperava, o que o faz afundar em situações perturbadoras, revelando uma face agressiva que ele desconhecia.
Um dos dois filmes da A24 selecionados na Berlinale, A Different Man assume inspirações em O Homem Elefante para trazer uma discussão um tanto cronembergiana e irônica sobre corpos com deformidades que a sociedade custa em aceitar, principalmente porque diretamente relacionadas à aparência. Schimberg coloca seu protagonista, Edward, ávido pela transformação e a aceitação social que ela acompanha, mas percebendo que a mudança física não é exatamente a que ele buscava.
Direção: Aaron Schimberg
Com: Sebastian Stan, Renate Reinsve, Adam Pearson
País: USA
Assistido no dia 16/02, no Berlinale Palast.
Mostra: Competitiva
SMALL THINGS LIKE THESE
Bill Furlong (Cillian Murphy) é um entregador de carvão em uma pequena vila irlandesa, em 1985. Casado e com cinco filhas, o homem de poucas palavras se depara com um esquema conduzido pela igreja local ocorrendo bem debaixo de seu nariz. Baseado no romance de Claire Keegan.
O longa de abertura da Berlinale, produzido por Matt Damon, usa muito do silêncio para revelar o que ele quer que pareça ser uma grande descoberta. Falta-lhe, porém, uma certa alma e calor cinematográfico. Cillian Murphy tem pouco a fazer com a ausência de palavras e a lentidão com que tudo é conduzido.
Direção: Tim Mielants
Com: Cillian Murphy, Michelle Fairley, Emily Watson
País: Irlanda, Bélgica
Assistido no dia 16/02, no Verti Music Hall
Mostra: Competitiva
DEMBA
Demba é um homem que vive numa pequena cidade do Senegal e que, após perder a esposa e prestes a se aposentar, vê-se incapaz de lidar com o luto, enquanto tenta aproximar-se de seu filho. A falta de estrutura e apoio psicológico para lidar com a perda o faz entrar em um estado depressivo e debilitador que ele custa a compreender e aceitar.
Um belíssimo retrato das dificuldades principalmente masculinas de lidar com questões de saúde mental. Conduzindo tudo com muita elegância e compaixão por esse personagem que por vezes soa moralmente duvidoso, o diretor concede muita humanidade nessa reflexão, embalando-nos na riquíssima cultura do Senegal.
Direção: Mamadou Dia
Com: Ben Mahmoud Mbow, Awa Djiga Kane
País: Senegal, Alemanha, Catar
Assistido no dia 16/02, no Cinemaxx
Mostra: Encontros
THE FABLE
Na fronteira entre Índia e Nepal, no alto do Himalaia, Dev e sua família são proprietários de um grande pomar, que gera trabalho para as pessoas do vilarejo local. Há muito equilíbrio e tranquilidade em tudo, até que algumas árvores do pomar surgem queimadas, desestabilizando a harmonia.
Raam Raddy assume a fábula logo no início de seu trabalho, perseguindo Dev com sua câmera até que o homem se vista com um par de asas e se lance Himalaia abaixo, voando com naturalidade. A partir daí, transita, através dessa família, por questões ecológicas, políticas e de relações de trabalho e poder.
Direção: Raam Reddy
Com: Manoj Bajpayee, Priyanka Bose
País: Índia, EUA
Assistido no dia 17/02, no Zoo Palast
Mostra: Encontros
ANOTHER END
Num mundo onde acessar as memórias de pessoas falecidas é uma possibilidade, Sal (Gael Garcia Bernal) não consegue superar a perda de sua esposa. É convencido por sua irmã, Ebe (Bérénice Bejó) a aderir ao programa “Another End”, uma tecnologia que permite que as pessoas tomem seu próprio tempo para o último adeus, personificado as memórias do ente falecido no corpo de outra pessoa.
Another End tem uma proposta muito atrativa a princípio, porém, o que parece ser uma reflexão sobre luto e perda se torna uma viagem exaustiva muito mais apegada à explicações, ciência e reviravoltas do que à humanidade prometida. No fim das contas, não consegue lidar nem com a ficção científica, nem com o drama.
Direção: Piero Messina
Com: Gael Garcia Bernal, Renate Reinsve, Bérénice Bejo, Olivia Williams
País: Itália
Assistido no dia 17/02, no Berlinale Palast
Mostra: Competitiva
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LOVE LIES BLEEDING
Jackie (Katy M. O´Brian) sonha em ganhar um concurso como bodybuilder em Las Vegas. Lou (Kristen Stewart) trabalha numa academia em New Mexico, e acaba conhecendo Jackie em seu caminho. As duas se apaixonam, e entram numa cadeia de violência causada pela família de Lou, cujo pai (Ed Harris) comanda uma rede criminosa.
Rose Glass brinca com o corpo e seus músculos para criar uma deliciosa, física e frenética loucura. O casal vai adentrando uma teia de acontecimentos que crescem e se tornam cada vez mais irreversíveis e violentos. O suor, músculos em crescimento, muito treino e muito sangue são o material perfeito para que a diretora se divirta para contar essa história.
Direção: Rose Glass
Com: Kristen Stewart, Katy M. O´Brian, Jena Malone, Ed Harris
País: EUA
Assistido no dia 18/02, no Berlinale Palast
Mostra: Berlinale Special Gala
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THE EMPIRE
Num pitoresco vilarejo de pescadores na Opal Coast, na França, o nascimento de um bebê é um acontecimento que vai gerar uma grande guerra forças alienígenas numa luta final entre o bem e o mal.
Bruno Dumont constrói uma sátira caipira e extremamente inusitada e irônica sobre as ficções científicas de aventura e fantasia. Usa das naves, dos diálogos fracos e das frases de efeito num contexto onde guerreiros aliens andam à cavalo com roupas de pescador e o vilão viril desejado por todas as mulheres é um homem que em nada se assemelha aos personagens de histórias do tipo. A comédia aqui vem do mais bizarro e absurdo cenário possível.
Direção: Bruno Dumont
Com: Lyna Khoudri, Anamaria Vartolomei, Camille Cotin
País: França, Itália, Alemanha, Bélgica, Portugal
Assistido no dia 18/02, no Cinemaxx
Mostra: Competitiva
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DAHOMEY
Como filmar um documentário sobre a devolução de peças de importância histórica de um país para outro? Diop nos dá a mais genial e potente resposta através de Dahomey. Não há nada de tradicional aqui, a cineasta foge das fórmulas documentais e imprime um amor e um cuidado tão imensos a seu projeto que ele ressoa em nós por meio de lágrimas e arrepios. Facilmente o filme poderia depender da força das esculturas e artefatos devolvidos por si só: a principal delas é uma impressionante representação do Rei Ghezo, reduzida à nomenclatura “26”, de punhos cerrados, em cinturão de guerra feito de metal. Mas não depende. Joga essa força em tela nos ângulos mais calculados e fornece mais.
Direção: Mati Diop
País: França, Senegal, Benin
Assistido no dia 18/02, no Berlinale Palast
Mostra: Competitiva
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CIDADE, CAMPO
Cidade e campo. Esses são os distintos ambientes das histórias femininas que Juliana Rojas vem nos contar. Joana é uma mulher que perdeu tudo após o rompimento de uma barragem em Minas Gerais, e vai morar em São Paulo com a irmã Tania e o sobrinho-neto Jaime. Flávia sai da cidade e vai para o campo, juntamente com sua esposa, Mara cuidar do sítio do pai que faleceu.
Joana, Tania, Flávia e Mara são mulheres que buscam se reencontrar após sofrerem perdas, diferentes, mas tão próximas em profundidade. A morte natural de uma pessoa, a morte de tudo que um mar de lama pode causar. Deixando sua marca, Rojas trabalha o horror e o musical novamente, conectando essas histórias pelo céu e seu ponto avermelhado.
Direção: Juliana Rojas
Com: Fernanda Vianna, Mirella Façanha, Bruna Linzmeyer, Kalleb Oliveira, Andrea Marquee
País: Brasil
Assistido no dia 18/02, no Cinemaxx
Mostra: Encontros
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A TRAVELER´S NEEDS
Uma mulher dá aulas de francês na Coréia do Sul. Ela se diz francesa, perambula pelos lugares com poucos pertences, relaciona-se racionalmente com as pessoas agindo da mesma forma, flerta e conquista as pessoas. Torna-se professora de suas mulheres coreanas, e gosta de beber Makgeolli, uma espécie de vinho de arroz.
Hong Sang-Soo novamente vem traz um conforto cinematográfico através da história dessa mulher misteriosa. Não conhecemos nada sobre ela, mas ela magnetiza por si só por sua despretensão e personalidade duvidosa e divertida. O diretor não precisa de muito para realizar um cinema de excelência que cativa por sua simplicidade.
Direção: Hong Sang-Soo
Com: Isabelle Huppert, Lee Hyeyoung, Kwon Haehyo, Cho Yunhee, Ha Seongguk
País: Coréia do Sul
Assistido no dia 18/02, no Cinemaxx
Mostra: Competitiva
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LANGUE ÉTRANGÈRE
Fanny é uma adolescente de 17 anos filha de imigrantes na França, que vai para a Alemanha para um intercâmbio cultural. Lá, ela fica na casa de Lena, uma jovem, ávida por se engajar no ativismo político. Fanny, desesperada para impressionar Lena, começa a criar uma realidade que não é sua. As duas logo se conectam fortemente em afinidade e partilha de ideais políticos.
Claire Burger consegue contrapor a vida pulsante dessas jovens e a amargura dos adultos ao seu redor, criando um filme que muito embora carregue uma tensão de conflitos e acontecimentos, soa esperançoso ao colocar a adolescência como detentora da força necessária para a construção de um mundo um pouco melhor.
Direção: Claire Burger
Com: Lilith Grasmug, Josefa Heinsius, Nina Hoss, Chiara Mastroianni
País: França, Alemanha, Bélgica
Assistido no dia 19/02, no Berlinale Palast
Mostra: Competitiva
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PEPE
Pepe nos conta a história dos hipopótamos de Pablo Escobar, retirados de seu habitat natural para atender aos caprichos do famoso traficante.
O diretor dominicano faz um cinema ousado. Confia na voz que dá ao hipopótamo Pepe e seus pares para vigiar e contemplar a exploração daquela espécie, totalmente deslocada. Permeia, ainda, a interferência causada por esses animais nas vidas humanas de vilarejos próximos de onde foram colocados. Faz tudo com uma certa estranheza contemplativa com pitadas experimentais.
Direção: Nelson Carlos De Los Santos Arias
Com: Jhon Narváez, Sor María Ríos, Fareed Matjila, Harmony Ahalwa, Jorge Puntillón García
País: República Dominicana, Namíbia, Alemanha
Assistido no dia 19/02, no Cinemaxx
Mostra: Competitiva
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BLACK TEA
Aya é uma mulher prestes a se casar, mas que decide dizer “não” no ponto mais crucial de seu casamento. Ela deixa a Costa do Marfim e parte para uma nova vida na China, onde africanos da diáspora e a cultura chinesa coabitam. A protagonista começa a trabalhar na casa de chás de Cai, que lhe ensina sua arte ancestral, e a troca que ocorre entre eles cresce a ponto de fazer nascer um sentimento mais profundo.
Abderrahmane Sissako, indicado ao Oscar de melhor filme internacional por Timbuktu, realiza Black Tea com extremo rigor e cuidado estético, com evidente inspiração em Wong Kar-Wai. Cada plano é racional e de uma beleza ímpar. Mas tudo se esvazia e soa desproporcional ante a proposta narrativa que remanesce, e seu decorrer vai tornando Black Tea estranho, com diálogos que beiram ao vergonhoso e uma falta de alma que realmente entristece.
Direção: Abderrahmane Sissako
Com: Nina Mélo, Chang Han, Wu Ke-Xi, Michael Chang
País: França, Mauritânia, Luxemburgo, Taiwan, Costa do Marfim
Assistido no dia 20/02, no Cinemaxx
Mostra: Competitiva
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GLORIA!
Em 1800, no Sant Ignazio College, nos arredores de Veneza, uma instituição musical para meninas regida é por um padre de moral duvidosa e sem dom musical. Quando ele recebe a notícia de que o Papa fará uma visita à igreja do colégio, ele precisa compor uma nova canção para homenageá-lo. São suas alunas um grupo de meninas muito talentosas, e trabalha no local uma jovem conhecida como “a muda”, que antes repudiada aos poucos vai se aproximando das demais através da música,
Gloria! é uma homenagem de Margherita Vicario aos grandes talentos musicais femininos que não foram reconhecidos ou que foram apropriados por homens nessa época. Sua intenção é muito bonita e o filme carrega momentos de simpatia, mas é bastante problemático em sua pretensa inocência, cometendo algumas ofensas descabidas nos tempos atuais.
Direção: Margherita Vicario
Com: Galatéa Bellugi, Carlotta Gamba, Veronica Lucchesi, Maria Vittoria Dallasta, Sara Mafodda
País: Itália, Suiça
Assistido no dia 21/02, no Berlinale Palast
Mostra: Competitiva
SPACEMAN
O astronauta Jakub, em uma missão Tchéquia no sistema solar, entra em crise depressiva após completar seis meses sozinho no espaço.
Candidato à pior filme da Berlinale, essa produção da Netflix parece querer propor complexas reflexões existências, mas trata-se de uma grande terapia de um homem egoísta que se recusa a fazê-la e que idealiza a esposa que ele deixou na Terra de forma a reduzí-la à um ser subserviente. O psicólogo do astronauta é a chave de ouro para tornar o filme cada vez pior.
Direção: Johan Renck
Com: Adam Sandler, Carey Mulligan, Kunal Nayyar, Lena Olin, Isabella Rossellini, Paul Dano
País: EUA
Assistido no dia 21/02, no Berlinale Palast
Mostra: Berlinale Special Gala
SHAMBHALA
Num vilarejo nos altos do Himalaia, Pema é uma jovem espirituosa que se casa com Tashi e seus dois irmãos mais novos. Os quatro vivem em harmonia e respeito, até que Tashi viaja para Lhasa. Em sua ausência, Pema se descobre grávida e passa a ser questionada pela comunidade sobre a legitimidade da criança que espera.
Shambhala é uma experiência de transe cinematográfico, de cinema meditativo, através da jornada de Pema, uma mulher gentil que não hesita para provar sua verdade. Com uma câmera cuidadosa que praticamente flutua naquelas montanhas, Min Bahadur Bham proporciona uma experiência de inserção quase que espiritual numa cultura que não conhecemos, onde mulheres podem viver em poligamia, mas ao mesmo tempo são alvo fácil de questionamentos morais bastante machistas.
Direção: Min Bahadur Bham
Com: Thinley Lhamo, Sonam Topden, Tenzin Dalha, Karma Wangyal Gurung, Karma Shakya
País: Nepal, França, Noruega, Hong Kong, China, Turquia, Taiwan, Estados Unidos, Catar
Assistido no dia 21/02, no Cinemaxx
Mostra: Competitiva
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WHO DO I BELONG TO
Aicha é uma mulher mística que tem sonhos proféticos, e mãe de três filhos, residindo com eles e seu marido no interior da Tunísia. Quando dois de seus filhos desaparecem, ela e sua família entram num estado de profunda tristeza, até que, meses depois, um deles retorna com uma esposa grávida e misteriosa, que nada fala e deixa somente os olhos a mostra pelo jihab que usa. Ávida por proteger seus filhos, Aicha os admite na família, sem perceber a estranheza dos acontecimentos ao redor e o medo que começa a consumir a comunidade.
Meryam Joobeur nos leva para um lado sombrio da maternidade em sofrimento, quando a proteção e o amor causam uma oportuna cegueira. A diretora mostra um interesse em olhares e expressões para discutir a inimaginável dor de amar pessoas que se mostram muito diferentes daquilo que imaginamos.
Direção: Meryam Joobeur
Com: Salha Nasraoui, Mohamed Hassine Grayaa, Malek Mechergui, Adam Bessa, Dea Liane
País: Tunísia, França, Canadá
Assistido no dia 22/02, no Berlinale Palast
Mostra: Competitiva
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SEVEN VEILS
Jeanine é uma diretora de teatro que é desafiada a dar continuidade em uma adaptação da ópera “Salomé”. Com o decorrer dos ensaios, Jeanine é confrontada pelas mudanças de faz na peça, e encara um passado obscuro de sua iniciaçao como artista por influencia de seu pai.
Atom Egoyan trabalha a estranheza e instiga nossa curiosidade pelo impacto das imagens e acontecimentos que vão se sobrepondo. A peça conta uma curiosa história de amor bíblico, que se mistura com a vida e seus traumas. As projeções transportadas para a peça são mescladas com os vídeos gravados pelo pai de Jeanine na infância, num ritmo paranoico, colocando a arte dentro da arte que quase não encontra limites. O tom obscuro já vem de seu início, e a loucura é o elemento que só cresce.
Direção: Atom Egoyan
Com: Amanda Seyfried, Rebecca Liddiard, Douglas Smith, Mark O’Brien, Vinessa Antoine
País: Canadá
Assistido no dia 22/02, no Berlinale Palast
Mostra: Competitiva
Essa publicação faz parte da cobertura do 74º Festival Internacional de Cinema de Berlim, acompanhe aqui